Prisão de Bolsonaro, tarifaço revogado e COP30: o feriadão que mudou o cenário político e internacional
A prisão de Bolsonaro dominou o noticiário do feriado prolongado e se tornou o eixo central da vida política brasileira entre quinta-feira (20) e domingo (23). O período, marcado pelo Dia da Consciência Negra, reuniu eventos simultâneos e de grande impacto institucional: a detenção preventiva do ex-presidente, o fim das negociações da COP30, a decisão de Donald Trump de retirar parte do tarifaço imposto ao Brasil, os desdobramentos da fuga do deputado Alexandre Ramagem, a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a revelação de um plano controverso para encerrar a guerra na Ucrânia.
A soma desses acontecimentos transformou o feriadão em um divisor de águas na política nacional e no tabuleiro geopolítico. Mas nenhum deles produziu impacto comparável à prisão de Bolsonaro, medida que expôs novas tensões institucionais e aprofundou a polarização em torno da figura do ex-presidente.
A prisão preventiva que reacendeu o país
A manhã de sábado (22) marcou um dos momentos de maior tensão política do ano. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi detido preventivamente no condomínio onde cumpria prisão domiciliar, em Brasília. A decisão, tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, aponta risco à ordem pública e possibilidade concreta de fuga.
A prisão de Bolsonaro ocorreu após a constatação de que a tornozeleira eletrônica usada pelo ex-presidente havia sido violada. Imagens exibidas em rede nacional mostraram o equipamento queimado, supostamente por um ferro de solda. Bolsonaro afirmou posteriormente que sofreu um “surto” devido a medicamentos e, em razão disso, danificou o dispositivo. Na audiência de custódia realizada no domingo, a juíza responsável manteve a prisão preventiva.
O episódio adiciona um novo capítulo ao já longo embate entre Bolsonaro e o STF. A ordem de prisão preventiva não está vinculada à condenação de 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado — processo em fase de recursos. Pelo entendimento da Corte, após o fim dos prazos recursais, caberá à Primeira Turma decretar a prisão definitiva.
No momento, Bolsonaro está sob supervisão médica na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal. Advogados ingressaram com novo pedido de prisão domiciliar, alegando problemas de saúde.
A cena que marcou o domingo
Durante a tarde de domingo (23), Bolsonaro foi visto na sede da PF ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em uma despedida breve que ganhou grande repercussão. A imagem sintetizou o ambiente emocional do núcleo bolsonarista desde a prisão de Bolsonaro e alimentou debates sobre a futura estratégia jurídica da defesa.
A movimentação de aliados continua intensa. Parlamentares da oposição avaliam respostas políticas e questionam os fundamentos da decisão de Moraes, enquanto deputados governistas reforçam o discurso de cumprimento das instituições. A semana promete novos tensionamentos.
Lula indica Jorge Messias ao STF
Na quinta-feira (20), em meio ao início das tensões que culminariam na prisão de Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a indicação de Jorge Messias para a vaga de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal.
Messias, advogado-geral da União, é considerado um nome de confiança do presidente e tem trajetória ligada ao serviço público. Evangélico e com 45 anos, sua indicação provocou ruídos políticos: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, demonstrou incômodo e preferia Rodrigo Pacheco para o posto.
Messias passará por sabatina no Senado, ainda sem data definida, e seu nome precisa ser aprovado para assumir o cargo.
Trump recua e revoga o tarifaço para parte do agro brasileiro
Ainda na quinta-feira (20), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou decreto retirando as tarifas extras de 40% sobre diversos produtos agrícolas e pecuários brasileiros. A decisão beneficia setores-chave como carne bovina, café e frutas, que enfrentavam custos elevados desde a implementação do tarifaço.
A medida resultou de negociações diretas entre Trump e Lula, além de tratativas técnicas entre autoridades dos dois países. O alívio tarifário chega em momento estratégico: consumidores americanos enfrentam inflação persistente, e a taxa extra sobre alimentos poderia ampliar pressões sobre preços internos.
Apesar da decisão, o tarifaço segue válido para produtos industriais como máquinas, motores, móveis, calçados e itens como peixe, mel e café solúvel.
O plano polêmico para encerrar a guerra na Ucrânia
Na sexta-feira (21), vazou um esboço de plano elaborado pelos Estados Unidos para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia. A proposta, atribuída ao governo Trump, sugere concessões significativas ao Kremlin, incluindo:
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cessão de territórios ucranianos ocupados;
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proibição de entrada da Ucrânia na Otan;
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reconhecimento “de fato” de áreas anexadas como russas, incluindo a Crimeia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a proposta coloca seu país diante de um dilema entre dignidade e apoio internacional. Na Europa, governos aliados de Kiev criticaram a abordagem americana, alegando ameaça à soberania ucraniana.
As negociações entre Ucrânia e EUA ocorrerão na Suíça. A proposta marca uma mudança dramática no posicionamento americano e aumenta a pressão política sobre Kiev.
Alexandre Ramagem: fuga e ordem de prisão
Na sexta-feira, também por decisão de Moraes, foi decretada a prisão do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado junto a Bolsonaro por participação no plano golpista. O deputado havia deixado o país clandestinamente em setembro e atualmente se encontra nos Estados Unidos.
A fuga de Ramagem é vista pelo STF como um dos elementos que reforçaram o risco de evasão no caso da prisão de Bolsonaro. O episódio deve gerar pedidos de cooperação internacional e novos embates políticos ao longo da semana.
COP30: avanços em adaptação, impasse em combustíveis fósseis
A COP30 chegou ao fim no sábado, em Belém, com avanços e frustrações. Entre os resultados, foram aprovadas:
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metas comuns para medir adaptação climática;
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triplicação do financiamento global para adaptação até 2035;
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criação do Acelerador Global de Implementação.
Apesar dos progressos, o encontro terminou sem consenso sobre a eliminação de combustíveis fósseis — tema considerado prioritário para o governo brasileiro e fundamental para manter o planeta dentro do limite de 1,5ºC de aquecimento global.
A conferência também enfrentou um incidente inesperado: um incêndio em área reservada a diplomatas, rapidamente controlado e sem vítimas.
Investigação sobre fraude no Enem
No domingo, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca no Ceará para investigar suspeita de fraude no Enem. O alvo foi Edcley Teixeira, estudante de medicina e professor de cursinho, que exibiu em live questões quase idênticas às aplicadas na segunda prova do exame, realizada em 16 de novembro.
O MEC invalidou três questões, mas descartou anular a prova inteira. A PF investiga se houve vazamento de material sigiloso do pré-teste do ministério. Teixeira alegou coincidência, mas confirmou ter pago estudantes para memorizar questões da avaliação experimental.
Um feriadão que redefiniu o tabuleiro político
O conjunto de acontecimentos transformou o feriado prolongado em um dos mais marcantes do ano. A prisão de Bolsonaro produziu impacto avassalador, ampliando tensões institucionais e reorganizando as posições de governo, oposição e Judiciário.
A revogação parcial do tarifaço por Trump trouxe alívio ao setor agrícola e gestos diplomáticos de proximidade entre Brasil e Estados Unidos. Ao mesmo tempo, as discussões da COP30 mostraram avanços e limites na agenda ambiental global.
O plano de paz para a Ucrânia, caso prospere, deve alterar dramaticamente a geopolítica europeia, enquanto a fuga de Ramagem expôs fragilidades na resposta institucional ao núcleo bolsonarista. A indicação de Messias ao STF e a operação da PF sobre o Enem completaram um ciclo de acontecimentos que se estende para a semana.






