Sabatina de Jorge Messias expõe deterioração de diálogo entre Poderes e amplia tensão institucional no Senado
A sabatina de Jorge Messias no Senado Federal transformou-se em um dos episódios mais emblemáticos da deterioração do diálogo entre Executivo e Legislativo em 2025. Marcada inicialmente para 10 de dezembro, a sessão — que deveria avaliar a indicação do advogado-geral da União ao Supremo Tribunal Federal (STF) — acabou cancelada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre. A decisão expôs uma fissura crescente na relação institucional entre os Poderes e abriu um impasse político que ameaça estender o clima de tensão até o próximo ano legislativo.
O cancelamento ocorreu porque, embora o governo tenha anunciado a indicação de Messias, o Palácio do Planalto não enviou à Mesa Diretora a mensagem presidencial responsável por formalizar o processo. Sem esse ato administrativo, não havia base regimental para a continuidade da tramitação. A ausência do documento, classificada por senadores como um fato incomum, colocou em xeque o planejamento previamente alinhado e gerou forte reação entre parlamentares.
A partir disso, a sabatina de Jorge Messias passou a simbolizar algo maior do que a avaliação técnica de um indicado ao STF: tornou-se o termômetro da relação entre os Poderes e o centro de um atrito que já vinha se formando nos bastidores desde o anúncio do nome escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Clima de desgaste e atraso incomum aumenta a pressão sobre o Planalto
O Senado informou que não poderia dar sequência à agenda sem a formalização da indicação. Segundo parlamentares envolvidos nas negociações, o atraso do envio criou surpresa, frustração e desconfiança. Ideologicamente polarizado e em ambiente pré-eleitoral, o Senado passou a interpretar o episódio não apenas como falha administrativa do Executivo, mas como indício de desorganização política.
Comissões internas relataram que não houve sinalização prévia do Planalto sobre qualquer dificuldade burocrática. No Legislativo, membros próximos a Alcolumbre classificaram o episódio como um gesto que inflou tensões já existentes e prejudicou a construção de um calendário previamente acordado com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Para analistas políticos, o atraso no envio da mensagem presidencial parece pequeno, mas tem grande efeito público. O Senado espera rigor formal do Executivo, especialmente em indicações para o STF. A suspensão da agenda, portanto, eleva a temperatura política e amplia a percepção de que o governo enfrenta desgaste crescente dentro do Congresso.
Weverton Rocha tenta conter danos e busca mudança de tom
Relator da indicação na CCJ, o senador Weverton Rocha tem atuado nos bastidores para evitar que a sabatina de Jorge Messias se transforme em crise institucional irreversível. Ele reconhece que o atraso do documento abriu espaço para interpretações políticas que poderiam ter sido evitadas. O parlamentar tem adotado postura de mediação entre Planalto e Senado, incentivando a retomada do diálogo e a construção de um novo calendário.
Segundo avaliação de bastidores, Weverton busca evitar que o desgaste cresça a ponto de contaminar a análise técnica da indicação. Embora não exista risco iminente de rejeição do nome de Messias, o ambiente de desconfiança pode tornar o processo mais lento e suscetível a disputas que vão além do mérito jurídico do indicado.
O relator tem ressaltado que a tramitação só poderá avançar quando o documento chegar à Casa. Até lá, defende que o debate permaneça restrito ao campo institucional, e não eleitoral.
Messias busca apoio político em meio à resistência crescente no Senado
Diante do episódio e da ampliação das resistências internas, Jorge Messias intensificou articulações políticas. Ele visitou gabinetes, conversou com líderes de bancadas e buscou aproximação com parlamentares vistos como votos estratégicos.
A sabatina de Jorge Messias ainda não tem nova data, mas o clima político tornou-se mais árido. O cancelamento de um encontro com o bloco Vanguarda — composto por integrantes do PL e do Novo — reforçou a percepção de isolamento do indicado, que enfrenta resistência especialmente entre setores conservadores e bancadas religiosas.
Em contraponto, Messias recebeu apoio do senador Mecias de Jesus, voz destacada da bancada evangélica. A estratégia do AGU tem sido buscar, de forma direta, reduzir barreiras ideológicas e ampliar a interlocução com grupos que manifestaram contrariedade ao seu nome.
Atrito entre Alcolumbre e Planalto tem raízes mais profundas
O clima de tensão criado pela sabatina de Jorge Messias também tem relação com disputas anteriores. Davi Alcolumbre atuou pela indicação do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco ao STF. A escolha de Lula por Messias contrariou articulações políticas que o presidente do Senado desejava fortalecer.
Com isso, ampliaram-se desconfianças entre Executivo e Legislativo. Parlamentares próximos a Alcolumbre afirmam que a escolha de Messias representou a ruptura de uma costura política que vinha sendo construída discretamente. O atraso no envio da mensagem presidencial, portanto, foi interpretado não como mero erro técnico, mas como desorganização institucional agravada por tensões preexistentes.
A leitura política dominante é de que um ruído desse tipo seria inevitavelmente amplificado em um ano de forte disputa eleitoral.
Cenário de incerteza adia decisões e pressiona o governo
A ausência do documento presidencial mantém a indicação estagnada e aumenta o risco de prolongamento do impasse. Parlamentares afirmam que não há previsão de nova data para a sabatina de Jorge Messias, e a definição depende exclusivamente do Senado.
Enquanto o Planalto tenta reorganizar o diálogo e reduzir atritos, cresce a percepção de que a demora prejudica a credibilidade do governo em temas sensíveis. No STF, a vacância prolongada também restringe o ritmo de julgamentos estratégicos, como processos ligados ao sistema penal e ações constitucionais relevantes.
Nos bastidores, líderes parlamentares avaliam que a nomeação só avançará quando Lula e Alcolumbre se reunirem pessoalmente. A conversa deve buscar reestabelecer confiança e reconstruir o calendário perdido. Até lá, Messias continua percorrendo gabinetes, mas sem garantia de que o ambiente político evoluirá de forma favorável no curto prazo.
Reações no Congresso revelam divergências sobre a escolha
A indicação de Messias não foi unânime. Parlamentares da oposição classificam o nome como excessivamente vinculado ao governo e rejeitam sua atuação como AGU em processos de alto impacto político. Aliados de Lula, por outro lado, defendem que sua trajetória técnica o qualifica para o Supremo.
Bancadas da segurança pública e segmentos conservadores criticam sua atuação em temas relacionados à pauta de costumes, enquanto partidos de centro demonstram preocupação com o desgaste institucional criado pelo atraso na tramitação.
Apesar da divisão, integrantes experientes do Senado avaliam que esse tipo de tensão é recorrente em períodos eleitorais. O agravante, desta vez, é a percepção de quebra de protocolo por parte do Executivo.
O peso político da sabatina e o impacto na imagem institucional do STF
A sabatina de Jorge Messias tem relevância estratégica. Trata-se da escolha de um ministro com mandato vitalício, capaz de influenciar julgamentos decisivos nas próximas décadas. Em um ambiente de descrença crescente no sistema político, escolhas controversas podem provocar ruídos institucionais e afetar a imagem do próprio Judiciário.
Especialistas apontam que o Senado, ao controlar a sabatina, reforça sua prerrogativa constitucional. Ao mesmo tempo, o Planalto precisa demonstrar organização administrativa e articulação política para não comprometer sua base parlamentar.
No STF, a vaga aberta por Barroso aumenta o interesse político sobre a indicação, já que a composição da Corte tem impacto direto na relação entre governo e Judiciário. Isso torna a demora ainda mais sensível.
Próximos passos dependem de encontro entre Lula e Alcolumbre
A expectativa em Brasília é de que Lula tente reaproximar-se de Alcolumbre assim que retornar de agenda no Nordeste. A conversa entre ambos será determinante para destravar o processo.
A avaliação predominante no Senado é de que, sem um gesto de conciliação, a tramitação poderá se arrastar por semanas — ou até meses. O desgaste político aumentaria, e a sabatina de Jorge Messias ficaria ainda mais vulnerável às pressões eleitorais.
Até lá, o cenário permanece indefinido. Parlamentares veem o episódio como exemplo da necessidade de cooperação institucional em um momento em que o país tenta preservar estabilidade política.






