Volume dos mananciais de São Paulo cai para 31,7% e acende alerta sobre abastecimento
O nível dos mananciais de São Paulo voltou a registrar queda significativa no final de setembro, segundo dados divulgados pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Entre os dias 28 e 29 de setembro, o volume total armazenado na Região Metropolitana caiu de 31,9% para 31,7%, o que representa uma redução de 0,2 ponto percentual no abastecimento da população.
A baixa na capacidade hídrica reforça a preocupação sobre a gestão dos recursos hídricos no maior centro urbano do país. Mesmo com chuvas pontuais nos últimos dias, os índices ainda se mantêm em patamar crítico, exigindo medidas emergenciais de controle de demanda e ajustes na operação de sistemas estratégicos, como o Cantareira.
Situação atual dos mananciais de São Paulo
O recuo no armazenamento foi registrado em quase todos os sistemas que compõem o conjunto de mananciais de São Paulo, com exceção do Rio Claro, que se manteve estável em 19%.
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Sistema Cantareira: caiu de 28,8% para 28,6% (de 282,42 hm³ para 280,42 hm³);
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Alto Tietê: reduziu de 25,3% para 25,2% (de 141,99 hm³ para 141,17 hm³);
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Guarapiranga: recuou de 48,2% para 48,1%;
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Cotia: passou de 50,9% para 50,6%;
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Rio Grande: caiu de 53,8% para 53,6%;
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São Lourenço: diminuiu de 46,8% para 46,5%.
O volume total armazenado nos sistemas administrados pela Sabesp passou de 619,79 hm³ para 616,18 hm³, em apenas 24 horas. A queda de 0,2 ponto percentual na comparação semanal mostra uma desaceleração nas perdas, reflexo das chuvas recentes, mas ainda insuficiente para reverter o cenário de déficit hídrico.
O peso do Sistema Cantareira
Entre os mananciais de São Paulo, o Cantareira continua sendo o mais relevante para o abastecimento da região metropolitana. Historicamente, ele responde por cerca de 46% do fornecimento de água da capital e cidades vizinhas.
Com a queda recente, o Cantareira atingiu um patamar preocupante. A partir de 1º de outubro, ele passa a operar no nível 4 de restrição, algo que não ocorria desde janeiro de 2022. Esse enquadramento impõe regras mais rígidas para retirada de água, com impacto direto na distribuição à população.
Medidas emergenciais adotadas pela Sabesp
Diante da queda no nível dos mananciais de São Paulo, a Sabesp adotou medidas de gestão para equilibrar oferta e demanda. Uma das principais foi a redução da pressão da rede de distribuição durante a madrugada, medida conhecida como Gestão de Demanda Noturna (GDN).
Inicialmente, essa prática foi estabelecida por oito horas, mas a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) determinou a ampliação para dez horas a partir de 19 de setembro. O objetivo é evitar desperdícios e preservar os níveis dos reservatórios em horários de menor consumo.
Outra medida foi a redução no volume de retirada do Sistema Cantareira. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e a SP Águas autorizaram a diminuição da vazão máxima, de 31 m³/s para 27 m³/s. Além disso, foi liberada a captação de água da bacia do Rio Paraíba do Sul, em caráter complementar, para garantir o abastecimento.
Impacto das chuvas e da baixa pluviometria
As chuvas registradas em São Paulo ao longo de setembro contribuíram para amenizar a velocidade de queda no volume dos mananciais de São Paulo, mas ainda não foram suficientes para gerar recuperação. A baixa pluviometria característica do período seco mantém os reservatórios em patamar crítico.
Esse quadro reforça a importância da gestão preventiva e de investimentos em infraestrutura hídrica. A oscilação climática, marcada por períodos mais longos de estiagem, já é realidade e exige que políticas públicas e privadas atuem em conjunto para garantir o fornecimento sustentável de água.
Desafios de longo prazo no abastecimento de São Paulo
O histórico hídrico da Região Metropolitana de São Paulo mostra que crises de abastecimento podem se repetir caso não haja planejamento de longo prazo. Em 2014 e 2015, a crise da água deixou parte da população sem fornecimento regular, revelando a vulnerabilidade do sistema.
Hoje, apesar dos investimentos em diversificação das fontes e na interligação entre mananciais, a dependência de chuvas regulares ainda é determinante para o equilíbrio. O atual patamar de 31,7% mostra que, em anos de seca intensa, a pressão sobre os sistemas continua elevada.
O papel da população e do consumo consciente
Embora a Sabesp e os órgãos reguladores adotem medidas emergenciais, a participação da população é essencial. O uso racional da água ajuda a preservar os mananciais de São Paulo, reduzindo perdas e garantindo maior segurança hídrica.
Medidas simples, como evitar banhos longos, reparar vazamentos residenciais e utilizar a água de reuso, contribuem significativamente para aliviar a pressão sobre os sistemas. A conscientização coletiva é parte fundamental da estratégia de enfrentamento da escassez.
Expectativas para os próximos meses
Com a proximidade do período chuvoso, há expectativa de melhora nos níveis dos mananciais de São Paulo. Historicamente, entre outubro e março, as chuvas são mais frequentes, contribuindo para a recuperação gradual dos reservatórios.
No entanto, especialistas alertam que a recuperação plena pode não ocorrer se as precipitações ficarem abaixo da média. Além disso, o aumento da demanda devido ao calor também pressiona o sistema. A combinação de fatores climáticos e de consumo deve determinar a evolução do cenário.
O recuo do volume para 31,7% reforça o alerta em torno dos mananciais de São Paulo e da necessidade de políticas consistentes para gestão hídrica. As medidas adotadas pela Sabesp e pelos órgãos reguladores mostram a gravidade do momento e a busca por alternativas imediatas para garantir o abastecimento da população.
No médio e longo prazo, será indispensável ampliar os investimentos em infraestrutura, diversificação de fontes e conscientização da sociedade. Afinal, a água é um recurso essencial e finito, e a gestão eficiente é o caminho para evitar crises ainda mais severas no futuro.






