Governo define detalhes da nova CNH e mudanças podem extinguir obrigatoriedade de autoescolas
A reformulação das regras para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) entrou na fase final de elaboração e reacendeu um dos debates mais intensos dos últimos anos: a possibilidade de tirar a nova CNH sem a obrigatoriedade de contratar autoescolas. O Ministério dos Transportes confirmou que prepara um pacote completo de alterações, resultado de uma consulta pública conduzida pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), encerrada no início de novembro, e que reuniu milhares de contribuições de cidadãos, especialistas e entidades do setor.
A proposta, prevista para ser anunciada oficialmente até o fim deste mês, reorganiza o processo de formação de condutores, amplia a autonomia dos candidatos, moderniza os mecanismos de capacitação e altera profundamente a estrutura que hoje sustenta o mercado das autoescolas. O ponto mais sensível da discussão é o que estabelece que grande parte do processo de preparação poderá ser feita sem a presença obrigatória de Centros de Formação de Condutores (CFCs), abrindo espaço para instrutores autônomos credenciados pelos Detrans.
A mudança tem caráter econômico e social. O governo argumenta que a nova CNH precisa refletir a realidade digital e as necessidades de uma população que, em grande parte, não tem condições financeiras de arcar com os custos atuais da habilitação. Segundo dados apresentados pelo Ministério dos Transportes, 54% dos brasileiros não possuem CNH, e 18 milhões dirigem sem habilitação. O custo médio para tirar a carteira, hoje acima de R$ 3.200, é um dos maiores entraves.
O que muda com a nova CNH
A principal alteração é a eliminação da obrigatoriedade de realizar todo o processo em uma autoescola. A partir da nova CNH, o candidato poderá escolher entre autoescola tradicional ou instrutor autônomo credenciado pelos Detrans. O conteúdo teórico também poderá ser estudado por plataformas digitais autorizadas, por meio de EAD, em CFCs ou pela própria Senatran.
O processo de abertura da CNH passa a ser integralmente digital, podendo ser iniciado no site da Senatran ou no aplicativo Carteira Digital de Trânsito (CDT). Prova teórica e exame prático permanecem obrigatórios, mas o modo de preparação para essas avaliações será definido pelo próprio candidato.
A promessa do governo é transformar a nova CNH em um processo mais acessível, moderno e alinhado às tecnologias atuais. A atenção se volta agora para as regras que determinarão quantas aulas práticas continuarão sendo exigidas.
Quantas aulas práticas vão continuar obrigatórias
O Ministério dos Transportes confirmou que deverá manter um número mínimo de aulas práticas, embora inferior ao atual. A regra vigente estabelece 20 horas presenciais obrigatórias, realizadas exclusivamente em CFCs. Com a reformulação, esse número deve cair consideravelmente.
As propostas em discussão são:
• Governo: mínimo de duas aulas práticas;
• Setor de autoescolas (Feneauto): entre cinco e dez aulas;
• Regra atual: 20 horas obrigatórias em autoescolas.
Embora a pasta tenha descartado eliminar completamente as aulas obrigatórias, a tendência é que o candidato possa cumprir essas horas com instrutores independentes, registrados e credenciados pelos Detrans, ampliando a flexibilidade e reduzindo custos.
A possibilidade de contratar instrutores autônomos representa uma mudança estrutural no setor. Esses profissionais, com credenciamento padronizado, terão acesso a plataformas digitais de registro, capacitação e identificação no sistema nacional de trânsito, integrando um novo modelo de prestação de serviços.
Processo totalmente digital: abertura, acompanhamento e avaliação
Uma das principais novidades da nova CNH é a digitalização total do processo. A abertura do procedimento não exigirá deslocamentos ou presença física em órgãos de trânsito. Pelo aplicativo CDT ou pelo site da Senatran, o candidato poderá:
• Iniciar o processo;
• Registrar estágio atual da formação;
• Agendar prova teórica;
• Agendar exame prático;
• Consultar andamento e documentos.
O modelo digital responde à necessidade de reduzir burocracias e democratizar o acesso ao processo. O governo afirma que a medida trará agilidade, segurança e controle mais eficiente do percurso de cada candidato.
O objetivo social da nova CNH
A reformulação atende a uma prioridade social do Ministério dos Transportes: ampliar o acesso à habilitação e reduzir a circulação de motoristas não habilitados. As estatísticas mostram que os custos do modelo atual excluem grande parcela da população.
Entre os dados destacados pelo governo:
• Mais de 18 milhões de brasileiros dirigem sem habilitação;
• 54% da população não possui CNH;
• O custo médio de R$ 3.215,64 é visto como impeditivo;
• 77% do valor pago por um candidato corresponde às aulas de autoescola.
Com a mudança, o governo estima redução de até 80% no custo final da nova CNH, permitindo que milhares de brasileiros tenham acesso à regularização.
Reação das autoescolas e risco de judicialização
A flexibilização da obrigatoriedade das autoescolas provocou forte reação institucional. A Federação Nacional das Autoescolas (Feneauto) já informou que deve judicializar a mudança tão logo as novas regras sejam publicadas, argumentando que a eliminação da exclusividade dos CFCs ameaça a segurança viária e compromete a qualidade da formação.
Representantes do setor afirmam que a rede de autoescolas já enfrenta queda no número de alunos e que medidas desse porte podem resultar no fechamento de milhares de unidades. Para a categoria, aulas presenciais contínuas são indispensáveis para garantir que motoristas iniciantes adquiram habilidades adequadas.
O governo, porém, sustenta que o novo modelo mantém os pilares essenciais da formação: prova teórica, avaliação prática e fiscalização digital. Para a pasta, o processo se torna mais eficiente, mais moderno e mais inclusivo, sem prejudicar padrões de segurança.
Mudanças também para categorias C, D e E
A modernização da formação não se limita à categoria B. O novo pacote também inclui mudanças para categorias profissionais:
• C (caminhões)
• D (ônibus)
• E (carretas e veículos articulados)
Nesses casos, as alterações incluem:
• possibilidade de formação tanto em autoescolas quanto em entidades autorizadas;
• flexibilização de etapas;
• redução de exigências burocráticas;
• processos mais rápidos e descentralizados.
A medida pretende ampliar a entrada de novos motoristas profissionais no mercado, reduzindo filas e acelerando a formação em setores essenciais, como logística e transporte coletivo.
Credenciamento dos instrutores autônomos
O novo modelo cria um mercado formal de instrutores independentes, o que deve ampliar o acesso à formação prática. Os instrutores serão credenciados pelos Detrans e terão:
• cursos digitais de qualificação;
• identificação via CDT;
• registro nacional como profissionais habilitados;
• autorização para ministrar aulas práticas.
A Senatran desenvolverá uma plataforma de gestão específica, garantindo controle, fiscalização e segurança nos registros de aulas.
Quando começa a valer a nova CNH
O governo confirmou que as novas regras serão publicadas ainda este mês. A implementação ocorrerá por portarias, e portanto não precisa passar pelo Congresso.
Após a publicação:
• Detrans entrarão em fase de adaptação;
• plataformas digitais serão atualizadas;
• instrutores poderão iniciar o credenciamento.
A expectativa é que o novo modelo da nova CNH comece a valer ainda este ano.
Modelo internacional inspira a nova CNH
A política brasileira não é inédita. Países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Inglaterra, Uruguai e Paraguai já adotam modelos flexíveis, nos quais o candidato escolhe como deseja se preparar para as avaliações. A intenção é unir liberdade de escolha, digitalização e manutenção dos padrões mínimos de segurança.
O Brasil segue essa tendência, buscando modernizar sua política de formação de condutores.
Quanto custará a nova CNH
A redução de custos é o maior impacto da reformulação. Hoje, o custo médio ultrapassa R$ 3.200, e grande parte desse valor corresponde às 20 horas de aulas práticas obrigatórias.
Com a flexibilização:
• aulas teóricas poderão ser feitas por EAD;
• aulas práticas terão preço de mercado, sem tabelamento;
• instrutores autônomos poderão oferecer pacotes mais competitivos;
• não haverá mais exigência de 20 horas presenciais;
• autoescolas continuarão atuando, mas sem exclusividade.
A estimativa oficial é que a nova CNH possa custar menos de R$ 700, dependendo do estado.






