Premiê que por mais tempo ocupou o cargo na história da Holanda, Mark Rutte, 56, anunciou nesta segunda (10) que deixará a política após a realização de eleições antecipadas devido à queda do governo. A declaração foi feita depois de opositores ameaçarem colocar em pauta no Parlamento uma votação que poderia destituí-lo.
O governo Rutte ruiu na última sexta-feira (7), quando o premiê não chegou a um acordo com políticos da base aliada sobre medidas para conter a imigração. O primeiro-ministro mencionou “diferenças intransponíveis” entre as siglas governistas ao justificar a renúncia.
O novo pleito ainda não tem data para acontecer.
“Assim que o novo gabinete for formado, deixarei a política”, disse Rutte ao Parlamento. Nos últimos dias houve muita especulação sobre o que me motivou [a renunciar]. A única resposta é a Holanda.”
A tensão interna chegou ao auge na semana passada, quando o premiê, líder do Partido Popular para a Liberdade e Democracia, de centro-direita, buscou emplacar às outras três siglas da coalização um sistema para limitar o número de crianças procedentes de zonas de conflito elegíveis para asilo na Holanda, que tem uma das políticas de imigração mais duras da Europa.
A proposta era restringir a 200 por mês a cifra de reuniões de crianças com parentes refugiados já no país. Em protesto, partidos deixaram a base, desencadeando a crise. Rutte ameaçou dissolver o gabinete caso seus aliados não aprovassem o projetoo que acabou acontecendo.
Rutte disse nesta segunda-feira que pretende liderar o governo interino até as eleições, que não devem ocorrer antes de meados de novembro, segundo o Conselho Eleitoral Holandês. O prazo para a população ir às urnas após a queda de um gabinete é de 90 dias, mas feriados locais devem adicionar alguns dias, assim como as férias. Parlamentares da oposição, porém, têm ameaçado colocar em pauta uma moção de censura, que pode tirá-lo do cargo antes do pleito.
Segundo a legislação holandesa, um governo interino não pode decidir sobre novas políticas, o que deixaria uma série de questões no limbo por meses, desde metas climáticas até assuntos relacionados a habitação e mesmo imigração. Embora tenha manifestado interesse em concorrer a um quinto mandato na noite de sexta-feira, Rutte disse que reconsiderou a ideia neste domingo (9).
Três partidos da oposição apresentaram uma moção de censura contra o premiê. Para avançar no Parlamento, o texto precisa do apoio de pelo menos um dos quatro partidos da coalizão que ruiu na sexta.
Rutte está na liderança holandesa desde outubro de 2010. O último de seus mandatos teve início em janeiro de 2022, com uma coalizão que levou nove meses para se formar após as eleições de março de 2021, o maior tempo de negociações na história política local, o que desenha bem o clima de difícil conciliação entre as forças políticas.
No fim de semana, líderes das legendas que formavam a coalizão governista responsabilizaram Rutte pela crise do gabinete, já que ele teria pressionado por limites à migração mesmo sabendo que o tema era considerado inegociável para partidos aliados.
“Vou fazer isso com sentimentos contraditórios. Mas a decisão parece certa”, afirmou Rutte. Ele disse que ainda não sabe o que vai fazer após deixar a política, recusando-se a dizer se estaria interessado em um cargo na Otan, a aliança militar ocidental, como já ventilado.
Rutte esteve no Brasil em maio, quando se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Brasília, e com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na capital paulista. Na pauta com o petista, o líder do país europeu debateu a Guerra da Ucrânia.
Com posicionamento diferente ao de Lula em relação ao conflito, ele disse que a guerra não ameaça só os valores de seu país, mas também a segurança, caso a Rússia vença. “Expliquei [a Lula] que fornecemos armas para a Ucrânia, porque, se não tivéssemos feito isso, Kiev teria caído nas primeiras semanas.”
Mark Rutte, ex-primeiro-ministro da Holanda — Foto: Darko Vojinovic/AP