Escândalo bilionário no Banco Master: operação da PF revela suposto rombo de R$ 12 bilhões e abala o sistema financeiro
O escândalo no Banco Master se tornou o epicentro de um terremoto institucional que atingiu o sistema financeiro brasileiro nesta semana. A deflagração da operação Compliance Zero pela Polícia Federal (PF), que prendeu o empresário Daniel Vorcaro e afastou o presidente do Banco de Brasília (BRB), abriu uma das maiores frentes de investigação sobre crimes financeiros já conduzidas no país. De acordo com a PF, a apuração envolve um suposto rombo bilionário estimado em R$ 12 bilhões, com indícios de práticas que incluem gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa e emissão de títulos de crédito sem lastro.
A operação mobilizou equipes em cinco estados e no Distrito Federal, marcando uma ofensiva simultânea para cumprir mandados de prisão preventiva, prisão temporária e dezenas de buscas e apreensões. O impacto político, institucional e econômico ampliou o alcance da investigação, que despertou reações do mercado e levou o Banco Central (BC) a decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master, aprofundando a crise que já se desenrolava no grupo.
A investigação se tornou símbolo de um modelo sofisticado de fraude que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), foi planejado ao longo de anos e utilizava a estrutura de instituições financeiras para fabricar carteiras de crédito sem lastro, revendê-las a bancos menores e apresentar substituições irregulares durante fiscalizações do BC.
Um rombo bilionário que expõe fragilidades sistêmicas
A estimativa de que o escândalo no Banco Master alcança R$ 12 bilhões acendeu alerta máximo entre autoridades financeiras e casas de análise. O valor envolve supostos títulos de crédito criados sem respaldo real, operações mascaradas para driblar mecanismos de supervisão e práticas irregulares que teriam provocado desequilíbrios patrimoniais relevantes.
A PF afirma que as investigações começaram no ano anterior, após o MPF detectar movimentações incompatíveis com padrões do mercado e acionar os órgãos de fiscalização. A suspeita inicial era de que uma instituição financeira estaria comercializando carteiras fictícias para reforçar artificialmente balanços e melhorar indicadores de risco. Quando o BC iniciou apurações técnicas, unidades envolvidas na operação teriam substituído ativos sem avaliação adequada, agravando o quadro fraudulento.
A dimensão do caso levou o BC a atuar de maneira conjunta com a PF e o Coaf, integrando uma força-tarefa formada para investigar estruturas financeiras complexas e rastrear operações suspeitas realizadas entre estados e diferentes agentes institucionais.
Prisão de Daniel Vorcaro marca o ápice da crise
O ponto mais dramático do escândalo no Banco Master ocorreu com a prisão de Daniel Vorcaro, controlador do grupo. Ele foi detido no Aeroporto Internacional de Guarulhos, instantes antes de embarcar para Abu Dhabi, movimento interpretado por investigadores como tentativa de saída do país em meio à evolução da investigação.
Para o mercado financeiro, a prisão representou um abalo imediato na confiança do setor, sobretudo porque Vorcaro estava envolvido em negociações de capitalização, venda de ativos e movimentações societárias do grupo, que já enfrentava grave deterioração financeira desde o início de 2025. O episódio aumentou o temor sobre potenciais repercussões sistêmicas e acelerou decisões regulatórias que estavam sendo discutidas entre autoridades.
Afastamento do presidente do BRB amplia repercussão institucional
Outra consequência de grande impacto político foi o afastamento de Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, por determinação judicial. A medida ampliou a dimensão do escândalo no Banco Master, uma vez que atingiu um banco estatal com relevância regional e conexões políticas, econômicas e administrativas.
O afastamento ocorreu devido ao cruzamento de informações identificadas pela PF sobre a circulação de títulos sem lastro entre instituições do sistema financeiro. Não há conclusão sobre o envolvimento direto de dirigentes do BRB nas supostas fraudes, mas a decisão judicial aponta a necessidade de preservar a investigação e evitar interferências durante a coleta de provas.
O episódio provocou reações no meio político e reforçou pressões por esclarecimentos sobre eventuais relações institucionais entre bancos, órgãos reguladores e empresas investigadas.
Como funcionaria o esquema dos títulos sem lastro
Segundo apurações preliminares, o escândalo no Banco Master gira em torno de um modelo sofisticado de emissão e comercialização de títulos de crédito que não tinham suporte real. O funcionamento do esquema pode ter ocorrido em três etapas:
1. Fabricação de títulos fictícios
Instituições financeiras teriam criado carteiras de crédito simuladas, sem lastro em operações reais, para aparentar robustez patrimonial e melhorar indicadores de risco.
2. Venda a outras instituições
Os títulos teriam sido repassados a bancos menores, que os incorporavam ao balanço como ativos legítimos, acreditando — ou não — que possuíam respaldo real.
3. Substituição irregular durante fiscalizações
Quando o BC iniciava investigações, parte desses títulos era substituída por outros ativos de baixo valor ou sem avaliação técnica adequada, para tentar ocultar inconsistências.
Esse tipo de operação, caso comprovado, traz impactos sistêmicos graves, pois contamina balanços e pode gerar insegurança jurídica em toda a cadeia de crédito.
Ação coordenada em cinco estados e no Distrito Federal
A operação Compliance Zero mobilizou policiais federais em uma ofensiva coordenada nas primeiras horas do dia. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão. As ações ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.
A amplitude da operação demonstra que o escândalo no Banco Master envolve uma rede de agentes, consultores e operadores financeiros especializados, muitos dos quais utilizavam estruturas formais para simular operações. A PF afirma que parte das empresas investigadas tinha movimentação incompatível com seu porte econômico, o que reforça suspeitas de operações artificiais.
Banco Central decreta liquidação extrajudicial e aprofunda os efeitos da investigação
Ao lado da PF, o Banco Central atuou como peça-chave da operação. Com o avanço das apurações, o BC decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, medida adotada quando há risco concreto à solidez do sistema financeiro e à integridade do mercado.
A liquidação extrajudicial encerra as operações da instituição, substitui a administração por um interventor e inicia o processo de levantamento de ativos, passivos e contratos. É o estágio mais grave do regime de resolução bancária e só é acionado em situações de extrema vulnerabilidade.
A ligação direta entre a liquidação e o escândalo no Banco Master reforça a gravidade dos indícios levantados. A instituição já apresentava desgaste financeiro ao longo de 2025, mas os fatos revelados pela investigação configuraram um ponto sem retorno.
A participação do Coaf no rastreamento de movimentações suspeitas
O Coaf integrou a operação com a função de rastrear transações financeiras incompatíveis com padrões legais e identificar fluxos atípicos entre contas vinculadas a investigados. A atuação do órgão é fundamental para compreender a amplitude do esquema e identificar ramificações que possam atingir outras instituições ou agentes econômicos.
O mapeamento dessas operações é considerado essencial para aprofundar o entendimento de como o suposto modelo de emissão de créditos sem lastro teria alcançado valores bilionários.
Reação do mercado e temor de contaminação
A repercussão do escândalo no Banco Master se espalhou rapidamente pelo mercado financeiro, provocando insegurança em setores sensíveis, especialmente fundos e investidores ligados a operações de crédito privado. A prisão do controlador e a liquidação extrajudicial elevaram a percepção de risco sobre instituições de médio porte, que já vinham enfrentando pressões regulatórias e exigências de capitalização.
Analistas apontam que, embora o sistema financeiro brasileiro tenha mecanismos robustos de proteção, investigações dessa magnitude podem provocar ajustes imediatos na oferta de crédito, revisão de carteiras e aumento do escrutínio regulatório. Para o investidor, a principal preocupação é o risco de contaminação entre instituições que tenham adquirido ativos originados em operações suspeitas.
Até o momento, autoridades consideram que o caso está circunscrito ao grupo investigado, mas reconhecem a necessidade de ampliar verificações técnicas em bancos de pequeno e médio porte.
A CPI do Crime Organizado como palco político da crise
O depoimento do diretor-geral da PF à CPI do Crime Organizado ampliou o alcance institucional do caso. A comissão, instalada para investigar esquemas ilícitos com ramificações interestaduais, tornou-se ambiente central para discutir o escândalo no Banco Master e suas implicações políticas, econômicas e regulatórias.
A exposição pública do valor estimado da fraude elevou o tom das discussões no Senado e pressionou autoridades a buscar respostas mais rápidas e transparentes. A CPI deve convocar novos depoimentos, solicitar documentos adicionais e aprofundar o rastreamento de operações suspeitas.
Investigação segue em sigilo, mas desdobramentos continuarão ao longo de 2025
Apesar da dimensão do caso, grande parte da investigação permanece sob sigilo para não comprometer diligências em andamento. A PF e o MPF continuam analisando documentos apreendidos, registros contábeis, correspondências internas e movimentações financeiras que podem ampliar o escopo do escândalo no Banco Master.
Especialistas estimam que, diante da complexidade técnica, a operação poderá ter novos desdobramentos ao longo de 2025, incluindo possíveis delações, quebras de sigilo e identificação de outros envolvidos.
A deflagração da operação Compliance Zero e o avanço das apurações sobre o escândalo no Banco Master inauguram um dos capítulos mais delicados da supervisão financeira brasileira. Os indícios revelados até agora apontam para práticas que ameaçam a integridade do sistema bancário, fragilizam cadeias de crédito e exigem reforço imediato das estruturas de governança e compliance. A investigação, ainda em curso, deverá moldar debates sobre supervisão, transparência e responsabilidade institucional nos próximos meses.






