Inadimplência da Caixa dispara, mas banco garante estabilidade e reforça estratégia para enfrentar o ciclo econômico
A inadimplência da Caixa voltou ao centro do debate econômico após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre. Os números revelam um avanço expressivo dos atrasos, especialmente em segmentos sensíveis, mas a instituição afirma que mantém controle total da situação. A direção do banco assegura que as provisões estão robustas, que a deterioração está dentro do esperado e que os indicadores estão alinhados ao comportamento das carteiras de crédito formadas durante o período de maior estresse econômico.
Em meio às incertezas ligadas aos juros elevados e à travessia de setores pressionados pelas condições macroeconômicas, a Caixa sustenta que a evolução da inadimplência da Caixa não indica ruptura estrutural, mas sim um ajuste natural diante das mudanças regulatórias e do comportamento do mercado.
Ajustes regulatórios mudaram o mapa do risco
A elevação da inadimplência da Caixa acima de 90 dias chamou atenção de analistas e investidores, mas a direção enfatiza que o movimento era esperado. A Resolução 4.966, que alterou a metodologia de cálculo de provisões, reposicionou parte das carteiras consideradas problemáticas. O efeito imediato foi um crescimento estatístico da inadimplência, sem que isso represente piora real na qualidade dos clientes.
A vice-presidência de Riscos foi taxativa ao afirmar que o impacto da nova resolução já estava mapeado pela instituição e faz parte de uma adaptação necessária do setor financeiro. Segundo a executiva, o avanço se deve ao reposicionamento das classificações, e não a um salto súbito no risco de crédito.
Na avaliação da Caixa, a leitura isolada dos números pode provocar interpretações distorcidas. Por isso, o banco reforça que mantém provisões suficientes para absorver oscilações e que o aumento da inadimplência da Caixa está totalmente dentro dos parâmetros previstos pela área técnica.
Inadimplência da Caixa sobe no trimestre, mas dentro do cenário projetado
O índice de inadimplência da Caixa acima de 90 dias chegou a 3,01% no terceiro trimestre, ante 2,27% de um ano antes. Esse avanço também superou os 2,66% registrados no trimestre imediatamente anterior. Embora o salto chame atenção, a instituição argumenta que esses porcentuais refletem, sobretudo, o comportamento das carteiras concedidas em um período marcado por juros elevados, inflação persistente e menor capacidade de consumo.
Entre os segmentos que mais influenciaram os resultados, destacam-se:
• Pessoa jurídica: 12,50%
• Pessoa física: 6,25%
• Agronegócio: 11,20%
• Crédito imobiliário: 1,3%
A direção do banco lembra que, durante 2022 e 2023, houve forte pressão sobre empresas e famílias, o que se refletiu na performance das carteiras nos anos seguintes. Na prática, parte da inadimplência da Caixa observada hoje ainda é consequência direta daquele período.
Provisões crescem mais de 60% e reforçam defesa da instituição
Um dos pontos mais destacados pela direção foi o aumento das provisões para perdas. A Caixa registrou R$ 5,07 bilhões em provisões, alta de 64,5% em comparação ao ano anterior. Para a instituição, essa expansão demonstra prudência e reforço de capital para enfrentar ciclos adversos.
O banco afirma que as provisões foram ampliadas para acompanhar a mudança regulatória e assegurar que os indicadores reflitam a realidade com rigor. Não por acaso, os executivos afirmam que a estabilidade está mantida e que os dados não comprometem a segurança da instituição.
Crédito imobiliário segue como motor do banco, apesar da pressão
Mesmo com a piora nos índices da inadimplência da Caixa, a diretoria mantém otimismo em relação ao crédito imobiliário. O presidente da instituição destacou que o setor continua sendo o maior impulsionador do banco e deve permanecer como pilar estratégico nos próximos anos.
As novas regras anunciadas pelo governo, como a flexibilização gradual do direcionamento da poupança, ampliam o espaço para financiamentos. A projeção da Caixa é atingir R$ 1 trilhão em crédito imobiliário na próxima década.
Além disso, o Conselho Curador do FGTS aprovou o uso do fundo para amortizar parcelas de financiamentos firmados entre 2021 e 2025. A medida vale para imóveis de até R$ 2,25 milhões e permite abater prestações, reduzir saldos devedores e comprar parcelas futuras.
Segundo a instituição, o alívio para as famílias deve contribuir para reduzir riscos e desacelerar a inadimplência da Caixa nessa modalidade.
Agronegócio passa por revisão rigorosa após salto na inadimplência
Entre os segmentos que mais contribuíram para o avanço da inadimplência da Caixa, o agronegócio teve papel relevante. Após uma expansão acelerada da carteira de crédito rural, o banco reconheceu falhas na modelagem de risco e anunciou que revisou critérios e reforçou exigências.
Os executivos afirmam que o banco “aprendeu” com o excesso de confiança em alguns nichos e que agora há uma separação mais clara entre operações de maior e menor risco. Situações que envolvem quebra de confiança passaram a ser tratadas com maior rigidez.
O banco considera que agosto e setembro já mostraram sinais de estabilização, com tendência de redução no quarto trimestre. As renegociações recentes também devem contribuir para a melhora de indicadores no setor. A carteira agro soma R$ 61,8 bilhões dentro do portfólio total de R$ 1,3 trilhão.
Pessoa jurídica concentra o índice mais elevado
A área de pessoa jurídica segue sendo o segmento com maior índice da inadimplência da Caixa, atingindo 12,50%. O banco atribui parte desse comportamento às micro e pequenas empresas, que enfrentaram forte pressão com juros altos, queda de consumo e aumento de custos.
A vice-presidência ressalta que as carteiras de 2023 e 2024 já demonstram melhor qualidade e que a tendência é de estabilização. A representatividade dessa carteira no conjunto total também impede riscos amplos ao balanço. No trimestre, o portfólio comercial PJ somou R$ 110,8 bilhões.
Lucro cresce apesar do cenário adverso
Mesmo com o avanço da inadimplência da Caixa, o banco registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre, alta de 15,4% na comparação com o ano anterior. Para a diretoria, o resultado confirma a capacidade da instituição de atravessar ciclos de maior estresse sem comprometer suas reservas ou operações estratégicas.
O banco projeta melhora adicional com a esperada queda da taxa Selic a partir de 2026, o que deve aliviar pressões sobre empresas e famílias e melhorar a performance das carteiras de crédito.
A inadimplência da Caixa e a dinâmica macroeconômica
A inadimplência da Caixa reflete, em grande medida, a combinação de fatores macroeconômicos observados nos últimos anos. O elevado custo do crédito, a instabilidade do consumo e o impacto prolongado da inflação corroeram a capacidade de pagamento de diversas famílias e negócios.
Os executivos destacam que, enquanto não houver mudança consistente no patamar das taxas de juros, a inadimplência tende a se manter pressionada. Por outro lado, a queda gradual da Selic cria ambiente mais favorável para reestruturações, renegociações e retomada de fluxos financeiros.
Um banco preparado para oscilações do ciclo econômico
Apesar da atenção causada pela inadimplência da Caixa, a instituição afirma que não enxerga riscos estruturais ao seu balanço. As provisões robustas, o lucro crescente e a revisão de modelos internos reforçam a leitura de que o banco está preparado para enfrentar volatilidades.
A Caixa sinaliza que continuará monitorando de perto os segmentos mais pressionados, especialmente o agro e as empresas de menor porte. A mensagem central é que a situação está sob controle e que o banco segue comprometido com o ajuste gradual das carteiras, com disciplina e rigor técnico.
A confiança como elemento chave
A direção da Caixa reforça que o acompanhamento próximo das operações tem evitado deterioração mais severa. A construção de confiança com clientes e o diálogo com setores estratégicos, como imobiliário e agronegócio, são apontados como fundamentais para conter a curva da inadimplência da Caixa.
Para a instituição, o momento exige cautela, mas também capacidade de adaptação. O banco se considera apto para enfrentar um ambiente econômico desafiador e acredita que os próximos trimestres devem trazer sinais de estabilização mais claros, sobretudo com a evolução das renegociações e a perspectiva de juros menores.






