BC liquida Banco Master um dia após anúncio de venda; PF prende Daniel Vorcaro
A decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master marcou um dos episódios mais contundentes do sistema financeiro brasileiro em 2025. A medida, anunciada nesta terça-feira (18), ocorre apenas um dia depois de uma nova tentativa de venda da instituição ter sido anunciada ao mercado. Horas após o comunicado oficial, a situação ganhou contornos ainda mais graves com a prisão do empresário Daniel Vorcaro, controlador do grupo, durante operação da Polícia Federal em São Paulo.
O avanço simultâneo desses eventos expôs a deterioração acelerada do cenário que envolvia o Banco Master, cuja fragilidade regulatória e operacional já vinha sendo sinalizada por autoridades e agentes de mercado. A liquidação extrajudicial interrompe a operação da instituição, retira o banco do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e transfere à EFB Regimes Especiais de Empresas a responsabilidade integral sobre ativos, passivos e procedimentos legais.
A decisão reflete o esgotamento das alternativas de reestruturação. O processo que culmina na liquidação ganhou intensidade nas últimas semanas, após tentativas frustradas de venda, vetos regulatórios e questionamentos sobre a governança da instituição. A prisão do controlador adiciona um novo componente ao caso e amplia a complexidade na condução da liquidação.
Liquidação extrajudicial e retirada completa do Banco Master do sistema financeiro
A liquidação extrajudicial é uma medida extrema e representa a retirada completa do Banco Master do Sistema Financeiro Nacional. A partir da publicação da decisão, todas as operações do banco ficam suspensas. Contas são paralisadas, contratos são encerrados, dívidas são consideradas vencidas e nenhum novo movimento financeiro pode ser realizado.
O Banco Central adotou a medida com base na ausência de um plano viável de recuperação, na incapacidade de continuação operacional e no risco de agravamento da situação patrimonial. A liquidação extrajudicial é utilizada em casos em que a continuidade da instituição ameaça a segurança dos clientes ou a estabilidade do sistema financeiro, servindo para evitar riscos sistêmicos e preservar o ordenamento econômico.
Com a liquidação, toda a administração passa à EFB Regimes Especiais de Empresas. A entidade foi nomeada como liquidante e terá poderes amplos para conduzir a resolução, analisar ativos, organizar passivos, alienar bens, buscar recuperação de créditos e prestar contas às autoridades. O processo poderá se estender por meses ou anos, dependendo da complexidade patrimonial e judicial.
O ato também inclui a liquidação da Master S.A. Corretora de Câmbio, braço do grupo que operava no mercado de câmbio e serviços financeiros complementares. assim, tanto a instituição bancária quanto sua corretora passam a existir exclusivamente para fins de encerramento.
Prisão de Daniel Vorcaro ocorre um dia após anúncio de venda
Enquanto o mercado ainda repercutia a liquidação, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, em São Paulo. A prisão ocorreu menos de 24 horas após o grupo anunciar publicamente uma nova tentativa de venda da instituição, em movimento que buscava sinalizar uma possível reorganização societária.
O anúncio de venda, divulgado na noite de segunda-feira (17), reacendeu a expectativa de que o Master tentaria evitar a medida extrema decretada pelo Banco Central. A negociação envolveria o Grupo Fictor, que havia demonstrado interesse pela instituição. No entanto, a liquidação extrajudicial interrompe todos os trâmites e torna qualquer operação societária sem efeito.
A prisão do controlador amplia a turbulência em torno da instituição e deve provocar repercussões diretas no andamento da liquidação, na avaliação de ativos, na comunicação com credores e no esforço de recuperação patrimonial. A condição do controlador costuma influenciar de maneira decisiva o ambiente jurídico e financeiro de instituições submetidas a regimes especiais.
Negociação com o Grupo Fictor é encerrada e segue veto anterior ao BRB
A tentativa de venda anunciada na véspera da liquidação foi o capítulo mais recente de uma série de movimentações que buscavam manter o Banco Master ativo. Antes disso, a instituição apostava em uma operação que envolveria a venda de uma fatia ao BRB (Banco de Brasília). O acordo estava em análise desde março e era considerado a principal estratégia para capitalizar o Master e garantir sua continuidade regulatória.
No entanto, o Banco Central vetou a operação em outubro. O veto foi interpretado como um recado claro de que havia inconsistências graves na instituição. Desde então, o Master tentava construir alternativas, mas nenhuma se mostrou suficientemente sólida para atender às condições regulatórias.
Com a liquidação, todas as negociações societárias são encerradas. A própria decisão formaliza que não há mais espaço para reestruturações, aportes emergenciais ou reorganizações administrativas. A retirada do Banco Master do SFN se torna definitiva, salvo em caso de futura autorização para criação de nova instituição — possibilidade que, na prática, não se aplica à situação atual.
Como funciona a liquidação extrajudicial e o impacto para clientes
O processo de liquidação extrajudicial altera completamente a relação dos clientes com a instituição. O Banco Master deixa de operar e passa a existir somente para fins de encerramento. Contas corrente, poupança, investimentos e operações de crédito ficam suspensos.
Todos os contratos se tornam vencidos. Valores depositados ou aplicados passam a integrar a massa de créditos a ser analisada pela liquidante. A prioridade de pagamento segue a ordem determinada em lei, obedecendo categorias como créditos trabalhistas, créditos com garantia real, créditos gerais e demais obrigações.
Para a maior parte dos clientes, especialmente pessoas físicas e pequenas empresas, a proteção mais relevante é o FGC (Fundo Garantidor de Créditos). O FGC cobre depósitos e determinados tipos de investimentos até o limite máximo por CPF ou CNPJ, por instituição. O fundo passa a atuar tão logo o BC decreta a liquidação, iniciando a análise dos saldos e preparando o cronograma de ressarcimentos.
A liquidação extrajudicial não estabelece prazo determinado para encerramento. Em alguns casos, processos semelhantes se estendem por longos períodos devido à necessidade de identificar créditos, recuperar ativos, analisar contingências jurídicas e liquidar patrimônios.
No caso do Banco Master, a complexidade tende a ser ampliada por conta da prisão do controlador e das negociações societárias recentes, que exigirão análise minuciosa da liquidante e acompanhamento próximo do Banco Central.
Efeitos no sistema financeiro e o papel regulatório do Banco Central
A retirada do Banco Master do SFN destaca o papel do Banco Central como garantidor da estabilidade financeira e fiscalizador das instituições que operam no país. A liquidação extrajudicial é utilizada apenas em situações extremas, quando os riscos de continuidade são considerados incompatíveis com o equilíbrio do mercado.
O BC vinha monitorando a instituição há vários meses. Os vetos recentes, as tentativas de venda e as evidências de fragilidade levaram a um processo de supervisão mais rigoroso. A decisão final indica que a autarquia constatou impossibilidade de recuperação sustentável.
A suspensão das atividades do Banco Master evita riscos maiores. A resolução ordenada reduz a possibilidade de corrida bancária, protege investidores, impede a contaminação de outras instituições e reforça a credibilidade do arcabouço regulatório brasileiro.
Especialistas apontam que o caso deve se tornar referência para discussões sobre governança bancária, supervisão contínua e práticas de gestão de risco. Instituições de médio porte, como o Master, dependem fortemente de estruturas robustas de compliance, controles internos e capitalização — elementos que, quando fragilizados, ampliam o risco de insolvência.
Desafios da liquidante e perspectivas para o processo
O próximo passo envolve o trabalho da EFB Regimes Especiais de Empresas, que assume o controle total do processo. A entidade deverá levantar todos os bens, ativos financeiros, operações de crédito, contratos pendentes, participações societárias e potenciais créditos recuperáveis do Banco Master.
A liquidante terá de avaliar também a extensão das obrigações, incluindo dívidas com credores, depósitos de clientes, compromissos institucionais e eventuais contingências jurídicas. A comunicação com o público deve ser feita de forma periódica, detalhando etapas do processo e instruções para clientes e credores.
A prisão de Daniel Vorcaro deve demandar atenção adicional da liquidante, já que a estrutura societária, eventuais responsabilidades civis e atos de gestão precisam ser analisados à luz dos desdobramentos judiciais. Esse tipo de evento costuma influenciar o fluxo de informações e a velocidade do processo de liquidação.
O Banco Central poderá decretar o encerramento da liquidação somente após a conclusão de todas as etapas. Caso o patrimônio do banco não seja suficiente para cobrir seus passivos, a autarquia pode decretar a falência da instituição.
Um marco na supervisão bancária brasileira
A liquidação extrajudicial do Banco Master se torna um marco relevante para o sistema financeiro por ocorrer em meio a tentativas de venda, negociações intensas e desdobramentos criminais envolvendo seu controlador. O caso demonstra a atuação direta do Banco Central na proteção do sistema, evitando que problemas internos se transformem em riscos generalizados.
A retirada do banco do sistema financeiro e a condução ordenada da liquidação reforçam a importância da governança, da transparência e da robustez patrimonial como pilares para qualquer instituição bancária. O episódio também evidencia a necessidade de monitoramento contínuo por parte dos agentes reguladores, especialmente quando há sinais precoces de deterioração.






