MP do IOF: Haddad corre contra o tempo para evitar perda de R$ 20 bilhões e manter equilíbrio fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, intensificou as negociações com o Congresso Nacional nesta terça-feira (7) em busca de um acordo de última hora para aprovar a MP do IOF (Medida Provisória 1.303). A proposta redefine regras tributárias e substitui o decreto anterior sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e é considerada essencial para o fechamento do Orçamento de 2026.
A medida expira nesta quarta-feira (8) e, se não for votada a tempo, o governo federal pode perder até R$ 20 bilhões em receitas, comprometendo a execução do arcabouço fiscal e obrigando o Ministério da Fazenda a realizar novos cortes em despesas obrigatórias e emendas parlamentares — o que ampliaria as tensões políticas às vésperas da votação do Orçamento.
O que está em jogo com a MP do IOF
A MP do IOF é um dos pilares da estratégia fiscal do governo para 2026. O texto estabelece novas bases de tributação sobre investimentos, operações financeiras e ganhos de capital, com o objetivo de reduzir distorções e ampliar a arrecadação sem comprometer o ambiente de negócios.
A medida também busca compensar o impacto da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, aprovada recentemente pela Câmara dos Deputados. Segundo Haddad, sem a aprovação da MP, o governo seria obrigado a adotar contingenciamentos severos, afetando políticas públicas e compromissos constitucionais.
“Temos espaço para negociar e ajustar o texto, mas a aprovação é essencial para garantir segurança fiscal e previsibilidade”, afirmou o ministro em entrevista recente.
As mudanças propostas pela MP do IOF
O texto da MP 1.303 traz uma série de alterações em diferentes tributos, com destaque para:
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Elevação do IR sobre JCP (juros sobre capital próprio): a alíquota passa de 15% para 20%, aumentando a arrecadação de empresas que distribuem lucros aos acionistas.
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Aumento da CSLL para fintechs: a contribuição sobe de 9% para 15%, equiparando o setor às instituições financeiras tradicionais.
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Fim das isenções para títulos incentivados, como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures, que antes contavam com benefícios fiscais significativos.
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Regras mais rígidas para compensações tributárias, reduzindo brechas que vinham sendo usadas por empresas para abater valores devidos.
Essas medidas fazem parte do esforço do governo para cumprir a meta de resultado primário zero em 2026, dentro dos limites estabelecidos pelo novo arcabouço fiscal.
O impacto da revisão no parecer de Zarattini
O relator da MP, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), apresentou um novo parecer nesta terça-feira, reduzindo em R$ 4,3 bilhões a projeção de arrecadação. O valor total cairia de R$ 20,87 bilhões para R$ 16,57 bilhões.
Entre as alterações, Zarattini decidiu manter a isenção de LCAs e LCIs, cuja tributação de 5% renderia R$ 2,6 bilhões, e retirar o aumento do imposto sobre as bets, que passaria de 12% para 18%, e geraria R$ 1,7 bilhão adicionais.
Por outro lado, o parlamentar incluiu o Regime Virtual de Regularização de Ativos Virtuais (RVRAV), uma espécie de “refis digital” que permitirá que plataformas de apostas e ativos virtuais regularizem tributos de 2014 a 2024. O objetivo é compensar parte da perda de arrecadação e trazer o setor para a formalidade tributária.
Negociações com o Senado e o desafio político
As negociações entre o Ministério da Fazenda e o Congresso entraram em fase decisiva. A reunião da comissão mista, que estava marcada para as 9h, foi adiada para as 15h30, a pedido do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), com o objetivo de garantir articulação com os senadores.
Segundo interlocutores do Planalto, o principal desafio agora é aprovar o texto sem que o Senado imponha mudanças substanciais que atrasem sua tramitação. Randolfe tem trabalhado para alinhar a proposta com líderes das duas Casas, de modo a evitar um impasse que possa inviabilizar a aprovação antes do prazo final.
“Não se trata apenas de votar, mas de garantir segurança jurídica e política à medida”, destacou o senador.
A importância fiscal da MP do IOF
A aprovação da MP do IOF é vista como crucial para o equilíbrio das contas públicas e a credibilidade do governo junto ao mercado. Desde maio, o Ministério da Fazenda vem executando um bloqueio orçamentário de R$ 30 bilhões, medida que só se sustentará caso novas fontes de receita sejam confirmadas.
O risco de perda de R$ 20 bilhões em arrecadação geraria pressão sobre o câmbio, os juros e a dívida pública, num momento em que o país tenta manter o compromisso com o arcabouço fiscal e evitar o rebaixamento de sua nota de crédito.
A equipe econômica também teme que a não aprovação da MP provoque revisões negativas nas projeções de crescimento e inflação, uma vez que a incerteza fiscal costuma impactar diretamente a confiança de investidores.
O embate político sobre cortes e privilégios
O ministro Fernando Haddad tem enfatizado que a proposta não busca aumentar impostos de forma indiscriminada, mas eliminar privilégios tributários que perderam sentido ao longo dos anos.
Entre os principais focos estão benefícios concentrados em setores de alta renda, como fundos exclusivos e aplicações financeiras com isenções desproporcionais. Segundo o ministro, essas distorções comprometem a progressividade do sistema tributário e reduzem o espaço fiscal para políticas sociais.
“Quando um privilégio tributário não faz mais sentido, ele precisa ser cortado — porque está fazendo falta para alguém que precisa mais do que aquele empresário”, afirmou Haddad em coletiva.
Reforma Tributária e o novo modelo de arrecadação
A MP do IOF também se conecta à segunda fase da Reforma Tributária, que prevê a simplificação e modernização do sistema brasileiro. O Ministério da Fazenda aposta na medida como ponte entre o atual regime e o modelo definitivo de impostos sobre renda e consumo.
Com o avanço do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) e a implementação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), o governo pretende reduzir a dependência de tributos sobre operações financeiras, tornando o sistema mais transparente e equilibrado.
Nesse contexto, a MP do IOF representa um ajuste de transição, essencial para preservar a arrecadação enquanto o novo modelo não entra em vigor.
A isenção do IR e o equilíbrio fiscal
Durante a entrevista, Haddad comemorou a aprovação, pela Câmara, da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e o desconto para rendas de até R$ 7.350.
A medida, aprovada por unanimidade (493 votos favoráveis), é considerada uma das principais promessas do governo Lula para fortalecer o poder de compra da classe média e baixa.
No entanto, o ministro foi claro: qualquer nova ampliação da faixa de isenção, como a proposta para rendimentos até R$ 10 mil, só poderá ocorrer se houver compensação fiscal.
“O Brasil está cansado de populismo. Qualquer ampliação precisa vir com responsabilidade fiscal”, destacou o ministro, reforçando a necessidade de manter o equilíbrio entre arrecadação e gasto público.
O que acontece se a MP do IOF não for aprovada
Caso a MP do IOF expire sem votação, o governo terá de reavaliar todo o planejamento orçamentário de 2026. A perda de R$ 20 bilhões em receitas poderá resultar em:
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Novos bloqueios orçamentários para recompor o equilíbrio fiscal;
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Cortes em emendas parlamentares, o que tende a gerar atritos com a base aliada;
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Atrasos em programas sociais e investimentos estratégicos;
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Aumento da desconfiança dos investidores, pressionando juros e câmbio;
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Risco de descumprimento do arcabouço fiscal, comprometendo metas de resultado primário.
Para o Ministério da Fazenda, a aprovação da medida é urgente e estratégica para consolidar o discurso de responsabilidade fiscal que vem sendo defendido desde o início do governo.
Corrida contra o relógio para garantir a estabilidade fiscal
Com a expiração da MP do IOF marcada para esta quarta-feira, Fernando Haddad enfrenta um dos testes mais desafiadores de sua gestão. Entre negociações políticas e pressões do mercado, o ministro aposta na articulação com o Congresso para assegurar o equilíbrio das contas públicas e a confiança dos agentes econômicos.
A votação da medida não é apenas uma questão técnica, mas um sinal de credibilidade. A capacidade do governo de preservar o arcabouço fiscal, sustentar o crescimento e evitar o descontrole das contas dependerá diretamente do desfecho dessa votação.






