STF condenação núcleo 3: Suprema Corte publica ata e consolida punição ao grupo acusado de articular atentados e golpe de Estado
O Supremo Tribunal Federal publicou a ata oficial referente ao julgamento do chamado núcleo 3 da trama golpista, um dos braços mais sensíveis das investigações que apuraram planos de atentado contra autoridades e tentativa de ruptura institucional. A divulgação do documento marca uma nova etapa do processo, trazendo a consolidação formal dos votos que condenaram nove dos dez réus analisados pela Primeira Turma da Corte. O núcleo reúne militares das Forças Especiais do Exército e um agente da Polícia Federal, todos acusados de participação em ações articuladas para alcançar fins violentos contra o Estado Democrático de Direito.
A publicação da ata é um passo necessário antes do acórdão, documento que trará a fundamentação detalhada da decisão. A condenação, unânime entre os ministros, reforça a interpretação de que o núcleo atuou de forma coordenada e consciente para fragilizar instituições e atingir autoridades no mais alto escalão do país. Apenas um dos réus, o general da reserva Estevam Theophilo, foi absolvido, em razão de ausência de provas que sustentassem sua participação direta nas ações imputadas ao grupo.
A decisão do Supremo se insere em um contexto de responsabilização crescente de indivíduos envolvidos em atos e tramas antidemocráticas, consolidando a compreensão de que o Judiciário manterá rigor máximo contra iniciativas que atentem contra o equilíbrio institucional. A divulgação da ata fortalece a narrativa jurídica que sustenta a existência de planejamento, monitoramento e ações preparatórias voltadas à desestabilização do processo político brasileiro, inclusive por meio de possíveis atentados contra autoridades eleitas.
Publicação da ata formaliza o resultado do julgamento e abre caminho para o acórdão
A ata divulgada pelo Supremo tem valor jurídico e processual fundamental. Ela registra oficialmente o resultado da votação conduzida na sessão anterior, além de definir os pontos centrais que serão detalhados no acórdão. Embora não contenha ainda a íntegra das fundamentações, a ata reafirma a posição unânime dos ministros quanto à responsabilidade penal de nove dos dez acusados.
Com o documento publicado, inicia-se a preparação do acórdão, que organizará argumentos, evidências e interpretações legais utilizadas pelos ministros. Esse acórdão terá impacto direto nas etapas posteriores do processo, como eventuais recursos. A divulgação da ata, portanto, não é apenas formalidade: é o marco que transforma a deliberação colegiada em decisão consolidada, com efeitos jurídicos imediatos.
Núcleo 3: quem são os réus e o que apontam as investigações
O núcleo 3 da trama golpista é formado por militares altamente treinados, muitos deles integrantes das forças especiais do Exército, conhecidos no ambiente interno como “kids pretos”. O grupo também inclui um agente da Polícia Federal. As investigações descrevem o núcleo como célula responsável por monitoramento, planejamento estratégico e articulação de ações de alto impacto destinadas a atingir o presidente eleito em 2022, seu vice e um ministro do Supremo Tribunal Federal.
A denúncia afirma que o núcleo desempenhou papel ativo na formulação de estratégias que poderiam resultar em adesão de setores das Forças Armadas a uma ruptura institucional. Entre as ações investigadas, estão o planejamento de atentados, a elaboração de documentos voltados a influenciar a cúpula militar e a mobilização de recursos materiais e humanos para alcançar os objetivos do grupo.
O Supremo considerou, de forma unânime, que o conjunto de elementos reunidos nas investigações apontava para envolvimento direto da maioria dos integrantes nas condutas atribuídas. A condenação abrange crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, integração em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
A absolvição de Estevam Theophilo e seus desdobramentos
O único absolvido foi o general da reserva Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército. A decisão, embora tomada no mesmo julgamento, reforça a premissa central do Supremo: condenações só são admissíveis quando acompanhadas de prova robusta e inequívoca.
Segundo o entendimento dos ministros, as evidências apresentadas não alcançaram o grau necessário para responsabilizar o general pelas condutas atribuídas ao núcleo 3. A absolvição, no entanto, não altera o contexto mais amplo da decisão, que reconhece a existência de articulação organizada dentro do grupo.
Os condenados e as imputações atribuídas pelo STF
Foram condenados pelo Supremo:
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Bernardo Romão Correa Netto (coronel)
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Fabrício Moreira de Bastos (coronel)
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Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel)
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Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)
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Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)
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Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel)
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Wladimir Matos Soares (agente da Polícia Federal)
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Márcio Nunes de Resende Jr (coronel)
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Ronald Ferreira de Araújo Jr (tenente-coronel)
Todos foram enquadrados em crimes que, segundo o Supremo, demonstram tentativa de fragilizar o regime democrático por meio de ações violentas e coordenadas. O envolvimento de militares com treinamento especializado e acesso a estruturas estratégicas de operação amplia a gravidade das condutas.
Planejamento de atentados e articulações contra o Estado Democrático de Direito
Um dos pontos mais graves atribuídos ao núcleo 3 refere-se ao monitoramento e ao planejamento do assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, de seu vice, Geraldo Alckmin, e de um ministro do Supremo Tribunal Federal, que presidia à época o Tribunal Superior Eleitoral. O Supremo considerou que a descrição dos atos investigados ultrapassa o mero discurso antidemocrático, configurando efetiva preparação para execução de crimes.
Além do planejamento de atentados, o grupo teria atuado na redação e na circulação de uma carta destinada a pressionar a cúpula do Exército a aderir ao golpe. O documento, segundo o processo, buscava influenciar militares de alta patente, criando ambiente propício à ruptura institucional.
Também constam na condenação ações envolvendo deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado, além da integração em organização criminosa armada, o que indica que o grupo possuía divisão interna de tarefas e lógica operacional própria.
O peso institucional da decisão e o recado do Supremo
A condenação do núcleo 3 reforça um movimento institucional que se intensificou após episódios de ataques às instituições democráticas. A decisão da Primeira Turma reafirma que estruturas altamente treinadas dentro do Estado não podem se desviar de suas funções constitucionais para atuar em prol de agendas políticas extremistas.
O recado enviado pela Corte é claro: planos de atentado, iniciativas para subverter o Estado Democrático de Direito e articulações para golpe serão enfrentados com rigor máximo, independentemente da patente, função ou carreira dos envolvidos.
Do ponto de vista jurídico, a decisão também consolida jurisprudência que reconhece a gravidade de atentados contra autoridades eleitas e contra o próprio Supremo, considerando-os atos de ameaça direta ao funcionamento dos Poderes da República.
O papel das Forças Armadas e a reconstrução de confiança institucional
A investigação do núcleo 3 traz à superfície um debate sensível: o papel das Forças Armadas na democracia brasileira. Embora a maior parte dos militares atue dentro dos limites constitucionais, casos como o do núcleo 3 demonstram a necessidade de fortalecer mecanismos de controle, supervisão e responsabilização.
A condenação pelo Supremo funciona como etapa necessária para reconstruir confiança social nas instituições de defesa, separando claramente a conduta individual de integrantes que agiram à margem da lei da missão constitucional das Forças Armadas.
Próximos passos após a publicação da ata
Com a divulgação da ata, o Supremo inicia agora o processo de preparação do acórdão, que reunirá:
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fundamentos jurídicos dos ministros,
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síntese das provas analisadas,
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interpretação constitucional adotada,
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razões para condenações e absolvições,
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definições sobre dosimetria das penas.
A partir do acórdão, as defesas poderão apresentar recursos, que serão examinados conforme competência da Corte. A tendência, segundo especialistas, é que o STF mantenha linha de rigor em casos ligados à tentativa de golpe e agressões institucionais, o que reforça a centralidade do julgamento do núcleo 3 na consolidação da jurisprudência recente.
A condenação como marco histórico de enfrentamento a tramas golpistas
A decisão da Primeira Turma, confirmada pela publicação da ata, é vista por analistas políticos como marco histórico no enfrentamento a articulações clandestinas dentro do aparelho estatal. O julgamento não se restringe a punir indivíduos: ele reafirma, em sentido amplo, que a democracia brasileira possui mecanismos institucionais robustos para responder a ameaças internas.
A condenação do núcleo 3 simboliza que estruturas do Estado não podem ser instrumentalizadas para fins contrários à ordem constitucional. Ao agir de forma coordenada, os ministros reforçaram a mensagem de estabilidade institucional e reafirmaram o compromisso da Justiça com a preservação das regras democráticas.






