Tarifaço de Trump: empresas brasileiras que ganham com o alívio das tarifas voltam ao radar da Bolsa
O recuo parcial do governo dos Estados Unidos no tarifaço de Trump reconfigurou o humor do mercado e recolocou os exportadores brasileiros no centro das projeções para 2026. Depois de meses de tensão comercial, setores inteiros voltam a enxergar espaço para recuperar margens, retomar contratos e reconstruir competitividade perdida durante a vigência da alíquota adicional de 40% imposta unilateralmente pelo governo americano.
Mesmo que o tarifaço de Trump não tenha sido completamente desfeito, a ampliação da lista de exceções — que passou de cerca de 700 para mais de 900 produtos — mudou o quadro. Entre os itens beneficiados estão proteínas, café, frutas e parte dos produtos agropecuários que ocupam posições estratégicas na pauta exportadora do Brasil. A decisão devolve visibilidade ao agronegócio, impulsiona frigoríficos com exposição elevada aos Estados Unidos e fortalece setores que passaram meses operando sob pressão de preços e incertezas.
O movimento ainda não foi suficiente para orientar o Ibovespa, que encerrou o pregão de sexta-feira em queda, alinhado ao ambiente global de aversão ao risco. Mas, para analistas, o desfecho da semana abre espaço para revisões positivas nas projeções de lucro de várias companhias que tiveram suas operações prejudicadas desde julho, quando a tarifa adicional foi anunciada.
O impacto do tarifaço de Trump e a guinada mais recente
O tarifaço de Trump surpreendeu o mercado ao atingir produtos sensíveis da economia brasileira. Carne bovina, café, banana, tomate e outras exportações relevantes passaram a enfrentar taxação equivalente a 40% sobre o valor importado, criando um desafio imediato para empresas e cooperativas que dependem do mercado americano.
A mudança desta semana, porém, marcou um ponto de inflexão. A retirada de tarifas para proteínas, frutas e parte dos itens agrícolas devolve ao Brasil capacidade de competir com países que já haviam sido beneficiados em rodadas anteriores de flexibilização tarifária, como México, Austrália e alguns emergentes asiáticos.
Para o agronegócio brasileiro, a decisão norte-americana significa reabertura de oportunidades em um dos mercados mais disputados do mundo. Mesmo sem revertê-lo integralmente, o alívio do tarifaço de Trump corrige distorções que vinham comprimindo margens e deslocando exportadores brasileiros em direção a destinos secundários.
Proteínas lideram a lista de vencedores com o alívio no tarifaço de Trump
Entre os setores imediatamente beneficiados estão os frigoríficos. A carne bovina foi uma das primeiras a ter a tarifa adicional retirada. Esse movimento reforça o papel da proteína brasileira nos Estados Unidos em um momento em que o mercado americano enfrenta oferta restrita de gado e preços domésticos em patamares elevados.
A dinâmica cria uma vantagem competitiva importante para empresas nacionais. O Brasil tem condições de abastecer a demanda em volume, qualidade e custo, e a redução tarifária amplia os spreads de exportação — relação entre custos de produção e valores de venda — para as companhias com maior exposição ao mercado norte-americano.
Dentro da Bolsa, os destaques são:
Minerva (BEEF3)
A companhia surge como a principal beneficiada. No terceiro trimestre, cerca de um quinto das vendas teve como destino os Estados Unidos. O fim da tarifa adicional tende a elevar volumes embarcados e reforçar margens, além de reaquecer contratos interrompidos em julho.
JBS (JBSS32)
Mesmo com presença global e diversificada, a JBS depende da normalização tarifária para otimizar suas operações de exportação. Com unidades produtivas integradas e forte capilaridade logística, a empresa deve capturar ganhos imediatos.
MBRF (MBRF3)
Com menor liquidez, mas presença relevante em mercados de nicho, a companhia também se beneficia do recuo parcial das tarifas.
O tarifaço de Trump havia colocado todo o complexo de proteínas sob pressão. Agora, com o alívio parcial e a possibilidade de novas rodadas de flexibilização, os frigoríficos passam a operar em um ambiente menos adverso, com expectativa de maior fluxo de exportações nos próximos meses.
Café volta ao centro do comércio internacional após o alívio tarifário
O café brasileiro — liderança global consolidada — também reaparece entre os maiores beneficiados. A tarifa adicional pressionava exportadores de café arábica, cafés especiais e derivados industrializados, reduzindo a competitividade frente a países como Colômbia e Vietnã.
Com o recuo parcial do tarifaço de Trump, duas forças devem atuar ao mesmo tempo:
-
Normalização dos embarques, aliviando a escassez internacional.
-
Correção gradual dos preços, que alcançaram patamares elevados devido à disrupção comercial.
Mesmo que a oferta global siga apertada, a retomada das exportações tende a reduzir parte do ruído observado nos últimos meses. Internamente, o setor trabalha com preços sustentados, margem construtiva e perspectiva de redução do desconto histórico entre o café brasileiro e a cotação de referência na CBOT.
Entre as ações listadas, a principal beneficiada no médio prazo é:
Camil (CAML3)
Embora com atuação mais diversificada, a companhia é vista por analistas como potencial vencedora em um ambiente de preços mais equilibrado e recomposição de margens para cafés especiais e derivados.
Exportações para os EUA: 55% agora livres do tarifaço de Trump
Estimativas recentes indicam que 55,4% das exportações brasileiras para os Estados Unidos já estão isentas da tarifa adicional de 40%, um salto expressivo em comparação aos 44,6% registrados no anúncio inicial.
O dado mostra que o gesto do governo americano não é pontual, mas parte de um movimento mais amplo de revisão tarifária. Para empresas listadas na B3, isso significa reprecificação de ativos, redução da volatilidade setorial e perspectiva de melhora nos resultados operacionais de 2026.
O tarifaço de Trump ainda está longe de terminar, mas o alívio parcial já produz efeitos perceptíveis:
-
Reabertura de contratos suspensos.
-
Aumento do apetite de traders internacionais.
-
Redução de risco operacional.
-
Sinais de recomposição de margens.
Quem ainda perde com o tarifaço de Trump
Se por um lado o agronegócio respira, setores industriais seguem sob impacto direto. Metalurgia, siderurgia e bens de capital — segmentos estratégicos do setor produtivo brasileiro — continuam enfrentando tarifas que limitam competitividade e encarecem o acesso ao mercado americano.
Entre os mais prejudicados estão:
Siderurgia
Representada na Bolsa por:
-
Gerdau (GGBR4)
-
CSN (CSNA3)
-
Usiminas (USIM5)
A indústria siderúrgica brasileira enfrenta margens comprimidas, demanda internacional oscilante e concorrência agressiva de exportadores asiáticos. O tarifaço de Trump amplia esse desafio ao encarecer a entrada dos produtos no mercado americano.
Bens de capital
Entre as companhias mais expostas:
O segmento depende da previsibilidade comercial para sustentar investimentos, renovar linhas de produção e manter competitividade global. Ao permanecer tarifado, o setor perde espaço em um dos maiores mercados do mundo.
Por que o Ibovespa caiu mesmo com o alívio do tarifaço de Trump
O recuo de 0,39% do Ibovespa não reflete a importância da decisão americana para o agronegócio. A queda ocorreu em sintonia com o ambiente internacional de aversão ao risco, motivado por:
-
Incertezas sobre juros globais.
-
Volatilidade nas commodities.
-
Busca global por ativos mais seguros.
Ou seja, apesar do otimismo com o alívio parcial do tarifaço de Trump, o mercado operou com foco nos vetores de risco sistêmico, deixando a notícia comercial em segundo plano no pregão.
Mesmo assim, casas de análise destacam que, passada a volatilidade, os efeitos positivos sobre empresas exportadoras tendem a aparecer no comportamento das ações — principalmente à medida que o mercado americano normalizar compras e ampliar pedidos de longo prazo.
Tarifaço de Trump: oportunidade para reposicionamento estratégico do Brasil
A retirada parcial das tarifas levanta uma questão central: o Brasil deve aproveitar a janela para aprofundar sua inserção no mercado americano. O episódio trouxe à tona a necessidade de:
-
Diversificação de mercados.
-
Criação de mecanismos de mitigação de risco tarifário.
O agronegócio brasileiro tem vantagem competitiva histórica, mas precisa garantir que oscilações políticas não comprometam cadeias produtivas inteiras. O alívio do tarifaço de Trump funciona como lembrete e oportunidade simultaneamente.
Perspectivas para 2026: o que esperar do pós-tarifaço
Se novas rodadas de revisão tarifária avançarem, analistas acreditam que o Brasil deverá:
-
Ampliar embarques para os EUA.
-
Revisar para cima projeções de lucro de frigoríficos.
-
Reforçar presença de cafés especiais no varejo americano.
-
Compensar parcialmente a pressão cambial sobre exportadores.
-
Estimular novos investimentos em capacidade produtiva.
Ao mesmo tempo, setores ainda penalizados continuarão pressionando Brasília por maior atuação diplomática, já que parte expressiva da indústria segue vulnerável ao tarifaço de Trump.
O cenário mais provável para os próximos meses inclui:
-
Abertura gradual de novas exceções.
-
Negociações bilaterais ampliadas.
-
Reforço no diálogo comercial entre Brasília e Washington.
Se confirmada essa trajetória, o mercado brasileiro pode experimentar um novo ciclo de melhora de humor e revisão positiva de múltiplos.






