Fitch reduz projeções e reacende debate sobre o preço do petróleo entre 2025 e 2027
A revisão realizada pela Fitch Ratings sobre o preço do petróleo entre 2025 e 2027 reacendeu preocupações sobre excesso de oferta, incertezas geopolíticas e a trajetória da demanda global. Em um cenário no qual produção, tensões geopolíticas, transição energética e desaceleração econômica convergem, o relatório publicado pela agência internacional de classificação de risco trouxe impactos imediatos nas expectativas do mercado, obrigando investidores, governos e empresas a recalibrarem cenários para os próximos anos.
A projeção revisada indica um ambiente de maior pressão sobre os preços do Brent e do WTI, refletindo a percepção de que a oferta global permanece elevada, enquanto a demanda avança em ritmo inferior ao esperado. O ajuste promovido pela Fitch se soma a um conjunto de sinais que vêm reorientando o mercado nos últimos meses, reforçando um quadro de fragilidade momentânea na precificação da commodity e um possível ciclo prolongado de preços moderados.
Em um ambiente global mais complexo, a discussão sobre o preço do petróleo assume papel central para economias dependentes de exportação, empresas de energia, investidores institucionais e governos que precisam ajustar planejamento fiscal. O relatório amplia a percepção de que os próximos anos exigirão respostas estratégicas diante de um cenário que já não opera sob parâmetros anteriores, marcados por volatilidade extrema e choques de oferta.
Excesso de oferta pressiona o preço do petróleo e redefine previsões
O ponto central da revisão da Fitch é a avaliação de que a produção global continuará superior ao crescimento da demanda no curto e médio prazo. A agência destacou que o aumento da oferta tem superado com folga qualquer expansão significativa no consumo mundial, criando um desequilíbrio estrutural que empurra o preço do petróleo para baixo no horizonte 2025–2027.
A projeção revisada indica que:
— o Brent deve registrar média de US$ 69 por barril em 2025;
— cair para US$ 63 em 2026 e manter esse patamar em 2027;
— o WTI deve recuar a US$ 64 este ano e atingir US$ 58 em 2026 e 2027.
Esses valores estão abaixo das expectativas anteriores da agência, mostrando que a percepção de oferta abundante superou qualquer expectativa de recuperação robusta da demanda. A Fitch observa que os aumentos de produção registrados por grandes produtores — especialmente no Oriente Médio e nos Estados Unidos — surgem em um momento de expansão moderada da economia global, limitando o ritmo de consumo.
A revisão reforça a importância de monitorar políticas de produção de países da Opep+ e os ajustes feitos por produtores independentes, que hoje desempenham papel maior no cenário mundial. Para a agência, a combinação entre custos tecnológicos reduzidos, novos investimentos e modernização de cadeias produtivas permite que empresas ampliem oferta mesmo com preços mais baixos, o que reforça a pressão estrutural sobre o preço do petróleo.
Opep+, Rússia e incertezas geopolíticas ampliam volatilidade das previsões
Outro elemento decisivo citado pela Fitch é o comportamento dos países da Opep+ e a importância dos volumes russos na estrutura global de oferta. A agência destacou incertezas relacionadas ao cumprimento de acordos de produção e aos impactos das sanções aplicadas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido contra as petrolíferas russas Lukoil e Rosneft.
Essas duas companhias representam cerca de metade das exportações de petróleo da Rússia, e qualquer redução de volume pode alterar significativamente o fluxo internacional da commodity. No entanto, a Fitch ressalta que, apesar das sanções, há projeção de manutenção de parte expressiva das exportações no curto prazo, devido à redistribuição logística e à crescente presença de intermediários.
A pausa na reversão dos cortes de produção da Opep+ no primeiro trimestre de 2026 adiciona outra camada de incerteza sobre o preço do petróleo. A agência menciona que não houve mudanças nas suposições de ciclo longo porque preços mais baixos tendem a restringir naturalmente o crescimento da oferta de maior custo.
O dilema que se coloca é o equilíbrio entre a estratégia da Opep+ — historicamente voltada para sustentação de preços — e a expansão de produtores fora do cartel, que se beneficiam de custos menores e maior flexibilidade operacional.
Desaceleração econômica e crise no setor petroquímico afetam a demanda global
A Fitch estima que a demanda mundial por petróleo deve crescer cerca de 800 mil barris por dia em 2025 e 2026. Esse avanço é considerado modesto diante de padrões históricos e está relacionado ao crescimento econômico mais fraco, à recessão significativa no setor petroquímico e aos impactos contínuos da transição energética.
A agência destaca que:
— a demanda global vai crescer abaixo de 1 milhão de bpd em 2025 e 2026;
— parte da desaceleração está associada a queda de consumo industrial;
— outra parte decorre da migração para matrizes energéticas mais limpas;
— veículos elétricos e eficiência energética reduzem ritmo de consumo.
Esse conjunto de fatores contribui para um ambiente de pressão contínua sobre o preço do petróleo, dificultando a sustentação de patamares mais elevados nos próximos anos. Ainda assim, a Fitch aponta que um crescimento marginalmente maior do PIB global em 2026 pode oferecer algum suporte à demanda, embora insuficiente para reverter o desequilíbrio estrutural entre oferta e consumo.
Sanções, conflitos e acordos diplomáticos: o tabuleiro geopolítico do petróleo
O relatório também menciona que as sanções aplicadas às empresas russas podem influenciar negativamente os volumes de exportação do país. Isso ocorre porque, isoladas logisticamente, Lukoil e Rosneft enfrentam custos maiores de escoamento e restrições operacionais impostas por países ocidentais.
Contudo, a Fitch observa que:
— mesmo um eventual acordo de paz entre Rússia e Ucrânia não alteraria, no curto prazo, o fluxo de exportações russas;
— mecanismos alternativos de venda e novos parceiros comerciais já foram estruturados;
— compradores asiáticos aumentaram participação para compensar mercados perdidos.
Esses elementos sugerem que a geopolítica continuará exercendo influência direta sobre o preço do petróleo nos próximos anos. O conflito no Leste Europeu, a política externa dos EUA e a relação entre Opep+ e mercados independentes seguem como variáveis que aumentam volatilidade e dificultam previsões de longo prazo.
Transição energética e recessão petroquímica: sinais de uma nova estrutura de mercado
O relatório da Fitch reforça uma mudança profunda no consumo de petróleo global: o setor petroquímico, historicamente um motor de demanda, enfrenta recessão acentuada, pressionado por:
— excesso de capacidade industrial;
— queda de margens;
— substitutos mais eficientes;
— regulação ambiental mais rígida.
Ao mesmo tempo, políticas internacionais de transição energética começam a remodelar padrões de produção e consumo, reduzindo progressivamente a dependência global do petróleo. Isso significa que, mesmo com eventual recuperação da economia mundial, a demanda por petróleo não deve crescer como em ciclos anteriores.
Esse choque estrutural ajuda a explicar a tendência de longo prazo captada pela revisão do preço do petróleo, sugerindo que a commodity poderá operar em um nível inferior ao observado na década passada.
Efeitos sobre empresas, governos e investidores: o novo equilíbrio do mercado
A redução estimada no preço do petróleo tem implicações diretas sobre diferentes segmentos da economia. Empresas do setor enfrentam necessidade crescente de eficiência, revisão de investimentos e reavaliação de projetos de exploração. Países exportadores dependem de ajustes fiscais mais rigorosos, especialmente quando receitas petrolíferas representam parte relevante do orçamento público.
Para investidores, a revisão da Fitch:
— exige reavaliação de portfólios expostos à commodity;
— amplia interesse por setores menos sensíveis ao ciclo do petróleo;
— reforça importância de hedge para empresas importadoras;
— sugere maior volatilidade em empresas de energia e petroquímicas.
A nova projeção define um ponto de inflexão no mercado. Mesmo com ciclos de recuperação, a tendência de médio prazo permanece orientada por mudanças estruturais no equilíbrio entre oferta e demanda.
A perspectiva de longo prazo e o papel do petróleo na economia global
Apesar das revisões, a Fitch manteve inalteradas suas projeções de longo prazo, pois considera que preços mais baixos tendem a restringir a expansão de oferta de maior custo, criando um mecanismo de autorregulação natural. Em outras palavras, mercados ajustam-se conforme produtores economicamente inviáveis deixam de operar.
Essa visão aponta para um preço do petróleo moderado, porém estável no longo horizonte, evitando colapsos significativos e limitando altas expressivas. O petróleo segue essencial para transporte, indústria, aviação e infraestrutura global. Estes fatores impedem uma queda abrupta e definitiva da demanda, embora crescimento acelerado da matriz energética renovável prossiga como tendência.
O fato é que o mercado global caminha para um ponto de equilíbrio diferente, definido não apenas por choques de oferta e conflitos internacionais, mas por transformações estruturais no modo como o mundo produz e consome energia.
Um cenário de desafios contínuos para o preço do petróleo
A revisão da Fitch sobre o preço do petróleo entre 2025 e 2027 reforça a percepção de que o mercado atravessa uma fase de reestruturação. O excesso de oferta, a crise petroquímica, as sanções à Rússia, a incerteza sobre a política da Opep+ e o avanço da transição energética são fatores que moldam um ambiente mais desafiador.
Para empresas, investidores e governos, a mensagem é clara: os próximos anos exigirão adaptação estratégica, revisão de modelos de negócio, maior eficiência e planejamento fiscal rigoroso. O petróleo continua relevante, mas não ocupa mais a posição absoluta que manteve por décadas.
O mercado caminha para um novo equilíbrio — e compreender as tendências captadas pela Fitch é essencial para antecipar movimentos que afetarão economias inteiras.






