O brasileiro se identifica mais com a direita ou com a esquerda? Pesquisa revela o retrato político do país
A identificação política do brasileiro voltou ao centro do debate nacional após a divulgação de uma pesquisa Datafolha realizada em dezembro, que mostra como a população se posiciona no espectro ideológico entre direita, esquerda e centro. O levantamento oferece um retrato detalhado das percepções políticas no Brasil em um momento marcado por polarização, disputas narrativas e redefinição de identidades partidárias e ideológicas.
De acordo com os dados, 35% dos brasileiros afirmam se identificar mais com a direita, enquanto 22% dizem estar mais próximos da esquerda. Outros 57% da população, portanto, se reconhecem mais alinhados aos polos ideológicos, evidenciando que a identificação política do brasileiro segue fortemente influenciada por visões antagônicas que se consolidaram ao longo da última década.
Pesquisa mostra polarização como traço dominante
O levantamento do Datafolha indica que a polarização permanece como um dos principais elementos da política brasileira contemporânea. Ao serem convidados a se posicionar em uma escala de 1 a 7 — em que 1 representa a extrema esquerda e 7 a extrema direita — a maioria dos entrevistados escolheu pontos próximos aos extremos.
Além dos 35% que se declararam mais à direita e dos 22% mais à esquerda, a pesquisa revelou que 7% se identificam com a centro-esquerda, 17% com o centro e 11% com a centro-direita. Outros 8% não souberam responder. Esses números reforçam que a identificação política do brasileiro não se limita apenas aos extremos, mas ainda assim revela forte inclinação a posições bem definidas.
O que explica o avanço da direita na autoidentificação
O fato de mais de um terço da população se declarar à direita não ocorre de forma isolada. Analistas avaliam que a identificação política do brasileiro passou por transformações profundas desde o impeachment de 2016, a ascensão do bolsonarismo e a consolidação de pautas conservadoras no debate público.
Temas como segurança pública, costumes, papel do Estado na economia e críticas ao sistema político tradicional impulsionaram o crescimento do discurso de direita. Para muitos eleitores, identificar-se com esse campo ideológico passou a significar rejeição à corrupção, defesa de valores tradicionais e crítica a políticas intervencionistas.
Esse movimento não se restringe a eleitores diretamente vinculados a partidos. A pesquisa indica que a identificação política do brasileiro ocorre muitas vezes de forma simbólica, associada a valores, comportamentos e visões de mundo, mais do que a filiação partidária formal.
A esquerda mantém base relevante, mas enfrenta desafios
Embora menor que o contingente identificado com a direita, o percentual de brasileiros que se posicionam à esquerda segue expressivo. Os 22% que se declaram mais à esquerda refletem a permanência de uma base social ligada a pautas como redução das desigualdades, fortalecimento de políticas públicas, defesa do papel do Estado e proteção social.
A identificação política do brasileiro com a esquerda, no entanto, enfrenta desafios em um cenário de desgaste institucional, críticas à condução econômica em períodos passados e dificuldades de comunicação com parcelas do eleitorado mais jovem e evangélico. Ainda assim, o campo progressista mantém influência significativa em sindicatos, movimentos sociais, universidades e setores urbanos.
O centro ainda existe, mas perde protagonismo
Os dados mostram que 17% dos brasileiros se identificam com o centro, enquanto outros 18% se distribuem entre centro-esquerda e centro-direita. Esses números indicam que, embora exista um contingente relevante de eleitores moderados, o espaço do centro político perdeu protagonismo frente à polarização.
A identificação política do brasileiro tem se tornado mais emocional e menos pragmática, o que dificulta a consolidação de discursos conciliadores. Em momentos de crise econômica, instabilidade institucional e conflitos ideológicos intensos, posições intermediárias tendem a perder visibilidade e força mobilizadora.
Polarização como fenômeno estrutural
Especialistas apontam que a polarização não é apenas um reflexo de disputas eleitorais recentes, mas um fenômeno estrutural da sociedade brasileira. A identificação política do brasileiro passou a ser influenciada por fatores como redes sociais, consumo de informação segmentado e fortalecimento de identidades políticas como parte da identidade pessoal.
Nesse contexto, posicionar-se à direita ou à esquerda vai além da política institucional. Trata-se de um marcador social que influencia relações familiares, ambientes de trabalho e interações cotidianas. A pesquisa Datafolha reflete essa realidade ao mostrar que mais da metade da população se reconhece em posições próximas aos polos.
Metodologia reforça confiabilidade dos dados
A pesquisa ouviu 2.002 pessoas com 16 anos ou mais, em 113 cidades brasileiras, entre os dias 2 e 4 de dezembro. A amostra representa diferentes regiões, faixas de renda, níveis de escolaridade e perfis sociais, o que confere robustez aos resultados.
Ao utilizar uma escala numérica de 1 a 7 para medir a identificação política do brasileiro, o Datafolha permite uma leitura mais precisa das nuances ideológicas, indo além da simples dicotomia entre direita e esquerda.
Jovens, adultos e idosos: diferenças geracionais
Embora o levantamento não detalhe recortes etários aprofundados, estudos anteriores indicam que a identificação política do brasileiro varia de acordo com a geração. Jovens tendem a apresentar maior volatilidade ideológica, enquanto adultos e idosos costumam ter posições mais consolidadas.
As redes sociais desempenham papel central nesse processo, especialmente entre os mais jovens, que consomem informação política de forma fragmentada e personalizada. Isso contribui para a radicalização de discursos e para a consolidação de bolhas ideológicas.
Religião, renda e escolaridade influenciam posicionamento
A identificação política do brasileiro também é impactada por fatores socioeconômicos. Eleitores evangélicos, por exemplo, apresentam maior tendência de alinhamento à direita, enquanto pessoas com maior escolaridade e renda urbana costumam se distribuir de forma mais equilibrada entre esquerda, centro e direita.
Já em regiões mais pobres, a identificação ideológica pode variar conforme políticas públicas percebidas, acesso a serviços essenciais e experiências locais com o Estado. Esses fatores ajudam a explicar por que a polarização se manifesta de maneira diferente entre estados e regiões do país.
Impactos para eleições futuras
Os dados da pesquisa têm implicações diretas para o cenário eleitoral. a predominância de eleitores que se veem à direita ou à esquerda indica que campanhas tendem a continuar apostando em discursos mobilizadores, muitas vezes confrontacionais.
A identificação política do brasileiro sugere que candidatos que tentam ocupar exclusivamente o centro enfrentam dificuldades para gerar engajamento emocional. Ao mesmo tempo, a existência de uma parcela relevante de eleitores moderados mantém aberta a disputa por narrativas capazes de dialogar com diferentes campos ideológicos.
Desinformação e redes sociais intensificam divisões
Outro fator que influencia a identificação política do brasileiro é a circulação de informações nas redes sociais. Plataformas digitais ampliaram o alcance de discursos ideológicos, muitas vezes sem mediação jornalística, o que intensifica percepções polarizadas da realidade.
Esse ambiente contribui para a consolidação de visões de mundo rígidas, dificultando o diálogo entre campos opostos. A pesquisa Datafolha, ao medir como os brasileiros se percebem ideologicamente, ajuda a dimensionar o impacto desse fenômeno na sociedade.
A política como elemento central da identidade social
Os números revelam que a política deixou de ser apenas um tema episódico e passou a ocupar lugar central na identidade de muitos brasileiros. A identificação política do brasileiro hoje influencia hábitos de consumo, escolhas culturais e posicionamentos públicos.
Esse cenário representa um desafio para a democracia, que depende da convivência entre visões divergentes. Ao mesmo tempo, revela uma sociedade mais engajada e consciente do papel da política em sua vida cotidiana.
O que os dados revelam sobre o Brasil atual
A pesquisa Datafolha mostra um país dividido, mas atento à política. A identificação política do brasileiro reflete um contexto de transformações sociais, econômicas e culturais profundas, em que antigas referências perderam força e novas identidades se consolidaram.
Compreender esse retrato é essencial para interpretar o presente e projetar o futuro da democracia brasileira. Mais do que números, os dados revelam percepções, valores e tensões que moldam o debate público.






