BBAS3: Banco do Brasil revisa guidance e acende alerta no mercado após balanço do 3º trimestre
O Banco do Brasil (BBAS3) entrou no último trimestre de 2025 com uma agenda de ajustes e revisão de projeções após apresentar um resultado significativamente pressionado entre julho e setembro. A instituição revisou o guidance de lucro ajustado para o ano, agora estimado entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, em um movimento que reflete a necessidade de acomodar o aumento da inadimplência no agronegócio e o consequente reforço de provisões.
A deterioração dos indicadores de crédito, especialmente entre produtores de soja nas regiões Centro-Oeste e Sul, remodelou o panorama operacional do banco e adicionou desafios à estratégia corporativa. Além do impacto direto sobre o lucro, o avanço da inadimplência acima de 90 dias expôs fragilidades setoriais em meio a um ambiente de renegociações complexas e elevação dos pedidos de recuperação judicial no campo.
No novo cenário, BBAS3 tornou-se novamente um termômetro da capacidade do banco de ajustar sua política de crédito aos desafios do maior segmento financiado pela instituição: o agronegócio.
A revisão do guidance e o impacto no lucro
A divulgação do balanço do terceiro trimestre expôs uma retração expressiva. O lucro líquido ajustado do período atingiu R$ 3,7 bilhões, representando uma queda de 60% frente ao resultado de um ano antes. O desempenho levou à revisão das perspectivas internas e tornou inevitável a recalibração do guidance.
A pressão central veio da inadimplência elevada no agronegócio, que atingiu 5,34% para operações acima de 90 dias — um aumento de 185 pontos-base quando comparado ao segundo trimestre de 2025. Essa disparada exigiu reforço imediato nas provisões para perdas esperadas, elevando o custo do crédito para R$ 17,9 bilhões no trimestre. O acumulado no ano alcançou R$ 44 bilhões, representando avanço de 66% em doze meses.
Com o novo cenário, o custo de crédito projetado para 2025 passou a variar entre R$ 59 bilhões e R$ 62 bilhões, alterando substancialmente o planejamento inicial.
Essa dinâmica pressionou os índices de cobertura e reduziu a capacidade do banco de absorver novas deteriorações sem mexer em seu planejamento financeiro, levando o mercado a revisar também sua percepção sobre BBAS3.
BBAS3 sofre pressão no mercado após balanço e revisão das projeções
A reação dos investidores foi imediata. No pregão seguinte à divulgação dos resultados, BBAS3 caiu 1,40% no final da tarde, refletindo a cautela dos agentes financeiros diante das novas variáveis de risco.
Parte do mercado considera que o ciclo de deterioração da carteira ainda não chegou ao ponto de estabilização. Há incerteza sobre o ritmo de normalização dos atrasos e dúvidas sobre o quanto das renegociações será suficiente para conter novas provisões.
Corroborando essa cautela, casas de análise iniciaram revisões de recomendação. Uma das movimentações mais relevantes foi o rebaixamento da classificação de BBAS3 de “compra” para “neutro”, acompanhado de redução significativa no preço-alvo. A justificativa reside tanto no ambiente adverso do crédito rural quanto na percepção de que a recuperação do desempenho pode ser mais lenta e gradual do que anteriormente estimado.
A situação reverbera, ainda, memórias de episódios passados envolvendo grandes provisões no banco. Contudo, a instituição descarta a necessidade de aumento de capital e aposta em uma estratégia distinta daquela adotada nos anos 1990. Agora, o foco recai sobre renegociação estruturada, maior granularidade na avaliação de risco e reforço nas garantias das operações.
O agronegócio como centro da turbulência
A carteira rural é historicamente um pilar do Banco do Brasil, mas no momento se tornou o principal vetor de risco. A inadimplência acima de 90 dias nos contratos do segmento indica uma pressão que combina fatores climáticos, variação de preços e endividamento crescente dos produtores.
A deterioração no fluxo de caixa de agricultores de soja — especialmente no Centro-Oeste e no Sul — coincidiu com um aumento expressivo de pedidos de recuperação judicial. Esse ambiente elevou a necessidade de provisões e tornou o comportamento do setor uma variável decisiva na performance de BBAS3.
A sensibilidade do banco à dinâmica do agro é significativa: o segmento responde por parcela robusta da carteira total e influencia diretamente a rentabilidade dos trimestres.
Para mitigar esse movimento, o banco colocou em marcha uma estratégia inédita em amplitude e velocidade.
O programa BB Regularizar Agro: o coração da resposta estratégica
Com a regulamentação da MP 1.314, que oferece condições especiais para renegociação de dívidas do agronegócio, o Banco do Brasil estruturou uma força-tarefa interna para acelerar triagens, ampliar análise de risco e executar reclassificações.
O programa “BB Regularizar Agro” tornou-se o principal instrumento do banco para enfrentamento da inadimplência rural. A instituição já analisou cerca de R$ 11 bilhões em solicitações, com R$ 5,4 bilhões aprovados após revisão de garantias e avaliação da capacidade real de pagamento dos produtores.
O banco também alcançou mais de 70% dos clientes aptos à renegociação e projeta que o volume total de reestruturações pode chegar a R$ 24 bilhões dentro das condições da MP 1.314.
Os contratos renegociados podem ser estendidos por até nove anos, com período de carência de um ano e reoriginação completa das operações. Nesse processo, o banco revisita perfis financeiros, exige garantias adicionais — como imóveis rurais, estoques ou máquinas — e prioriza operações pós-fixadas atreladas ao CDI como forma de equalizar risco e retorno.
Essa abordagem também possibilita a conversão de parte das perdas esperadas em créditos tributários (DTA), fortalecendo o capital regulatório sem depender de aportes externos.
Para os executivos do banco, o programa representa uma alternativa mais sustentável e estratégica ao reforço de capital tradicional — mantendo independência financeira e preservando a governança.
Tempo de recuperação preocupa analistas
Apesar das iniciativas, analistas apontam que a normalização da carteira pode levar mais tempo que o desejado. Mesmo com novas provisões, o índice de cobertura recuou, gerando sinais de que a deterioração do crédito ainda não encontrou seu ponto de inflexão.
Além disso, outubro trouxe nova pressão sobre a inadimplência, o que reforça a visão de que BBAS3 ainda tem um caminho prolongado até a retomada plena da estabilidade operacional.
Relatórios do mercado sintetizam essa percepção ao destacar que os resultados positivos das renegociações devem demorar para refletir na lucratividade do banco, enquanto novos casos de atraso continuam surgindo em ritmo acelerado.
A administração também reconhece publicamente que a deterioração deve continuar até que os efeitos completos da MP 1.314 sejam absorvidos e que a carteira renegociada comece a mostrar os primeiros sinais de estabilização.
A expectativa oficial aponta para início da melhora apenas no primeiro trimestre de 2026, quando um volume menor de vencimentos e a maturação das renegociações devem reduzir pressões sobre o provisionamento.
Perspectivas: BBAS3 no centro das discussões sobre risco, crédito e governança
A revisão do guidance e as incertezas sobre o comportamento da inadimplência colocam BBAS3 sob observação privilegiada de investidores, analistas e gestores de fundos. O banco segue com fundamentos sólidos, capital regulatório adequado e capacidade operacional elevada. No entanto, o avanço dos riscos no agro exige respostas rápidas, intensivas e alinhadas às projeções macroeconômicas.
A resiliência do Banco do Brasil será testada ao longo dos próximos trimestres, especialmente diante do ritmo de renegociação e do comportamento dos indicadores climáticos e de preços agrícolas.
em cenário de elevado escrutínio, a performance das ações BBAS3 seguirá refletindo não apenas o balanço trimestral, mas a capacidade da instituição de transformar provisões em estabilidade e renegociações em recuperação de receita.






