O que muda na prática com a nova isenção do Imposto de Renda: entenda quem ganha e quem paga mais
Por Gazeta Mercantil — Brasília
A aprovação no Senado Federal da ampliação da isenção do Imposto de Renda representa uma das mudanças mais significativas na política tributária brasileira dos últimos anos. O projeto, que agora segue para sanção presidencial, redefine faixas de contribuição, cria mecanismos de compensação fiscal e promete beneficiar diretamente 16 milhões de brasileiros com rendimentos de até R$ 5 mil mensais.
Ao mesmo tempo, o governo busca equilibrar as contas públicas ao instituir uma tributação mínima para altas rendas e dividendos, marcando um movimento em direção à progressividade tributária e à justiça fiscal. A seguir, veja o que muda na prática para trabalhadores, investidores e empresas com as novas regras.
Nova faixa de isenção do Imposto de Renda: quem será beneficiado
A principal mudança é a elevação do limite de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil mensais, o que significa que todos os brasileiros com salários até esse valor deixarão de pagar imposto na fonte. A medida representa um avanço em relação ao teto anterior, de R$ 2.824, que estava em vigor desde 2024.
De acordo com estimativas do governo, a mudança elevará o número de contribuintes isentos de 55% para 65% da população economicamente ativa, ampliando o alcance social da medida e aliviando a carga tributária de trabalhadores assalariados.
Na prática, o reajuste na tabela representa uma <strong data-start="1639" data-end=”1673″>redução da defasagem histórica do Imposto de Renda, que acumulava mais de 140% de atraso em relação à inflação desde 2015. A nova faixa é considerada um passo importante na recuperação do poder de compra da classe média e dos assalariados formais.
Como funciona o desconto escalonado até R$ 7.350
O texto aprovado cria um desconto parcial e escalonado para rendimentos entre R$ 5 mil e R$ 7.350, estabelecendo uma faixa de transição para evitar saltos abruptos de tributação.
Na prática, isso significa que quem ganha, por exemplo, R$ 6 mil por mês, não passará a pagar imposto integral sobre o excedente. A cobrança será reduzida de forma proporcional, garantindo maior equidade entre as faixas de renda.
Essa estrutura foi ampliada pelo Congresso Nacional, após proposta inicial do governo que previa o teto do desconto em R$ 7 mil. O relator do texto na Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), argumentou que o aumento para R$ 7.350 amplia o alcance do benefício sem comprometer a arrecadação.
O impacto da nova isenção na economia
A ampliação da isenção do Imposto de Renda deve injetar recursos diretamente na economia, com aumento da renda disponível para consumo. Segundo o Ministério da Fazenda, o impacto fiscal será compensado por novas formas de arrecadação sobre altas rendas e lucros financeiros.
Economistas apontam que a medida tem potencial de estimular o varejo e o setor de serviços, especialmente entre famílias de baixa e média renda, que tendem a consumir a maior parte do que ganham. Estimativas preliminares indicam um incremento no consumo interno de até R$ 25 bilhões por ano.
Tributação mínima para altas rendas
Para compensar a renúncia fiscal causada pela ampliação da isenção, o projeto institui um “imposto mínimo” sobre altas rendas, voltado especialmente a quem obtém grande parte dos rendimentos de fontes isentas — como lucros e dividendos.
A cobrança será aplicada a contribuintes com renda mensal acima de R$ 50 mil (ou R$ 600 mil por ano). Para quem ultrapassar esse patamar, a alíquota será gradualmente ampliada até 10%, atingindo contribuintes com ganhos superiores a R$ 100 mil mensais (R$ 1,2 milhão por ano).
Esse novo modelo é baseado na alíquota efetiva, ou seja, considera o percentual total de imposto pago sobre todas as fontes de renda, inclusive as hoje isentas. Caso o contribuinte já pague mais do que o mínimo exigido, não haverá cobrança adicional. Caso contrário, será preciso complementar a diferença junto à Receita Federal.
A medida atinge aproximadamente 141 mil contribuintes, segundo dados da Receita, e busca reduzir a disparidade tributária entre trabalhadores e grandes investidores.
Tributação sobre dividendos: o que muda para empresas e investidores
O projeto também institui uma alíquota fixa de 10% sobre dividendos recebidos por pessoas físicas, quando o valor ultrapassar R$ 50 mil por mês por empresa. A cobrança será feita na fonte e começará a valer a partir de 2026, funcionando como mecanismo de compensação da nova isenção.
Empresas que já recolhem o Imposto de Renda corporativo integral (IRPJ + CSLL), como instituições financeiras, seguradoras e universidades que participam do Prouni, continuarão isentas dessa tributação sobre dividendos.
A expectativa é que a medida gere arrecadação adicional estimada em R$ 20 bilhões anuais a partir de 2026, reforçando a sustentabilidade fiscal da política de isenção.
Exceções e rendimentos isentos do imposto mínimo
Determinados rendimentos não entrarão no cálculo do novo imposto mínimo, para evitar dupla tributação e proteger fontes de renda específicas. Entre as exceções estão:
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heranças e doações;
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rendimentos da poupança;
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indenizações por acidentes ou doenças graves;
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aposentadorias por invalidez;
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dividendos pagos por governos estrangeiros;
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rendimentos de títulos isentos, como LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures incentivadas e fundos imobiliários (FIIs).
Essas exceções garantem que o imposto mínimo não atinja aplicações voltadas à poupança popular e aos investimentos produtivos, preservando o incentivo à economia real e à formação de capital.
Efeitos sobre Estados e municípios
Como o Imposto de Renda compõe a base de cálculo do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), a ampliação da isenção provocará uma redução na arrecadação compartilhada entre União, Estados e prefeituras.
Para mitigar o impacto, o texto prevê aumento nas transferências regulares e possibilidade de repasses trimestrais adicionais, caso a arrecadação federal supere as metas previstas. Essa compensação busca equilibrar as finanças regionais e evitar desequilíbrio orçamentário nos entes federativos menores.
Projeto complementar: tributação de bets e fintechs
Paralelamente à aprovação da nova tabela do Imposto de Renda, o Senado analisa um projeto complementar que eleva a tributação sobre apostas esportivas (bets) e fintechs de pagamento.
A proposta, relatada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), dobra a alíquota sobre a receita bruta de apostas (GGR) de 12% para 24%, e aumenta a CSLL das fintechs de 9% para 15%. O objetivo é gerar novas fontes de arrecadação para compensar o impacto da política de isenção.
Especialistas avaliam que a combinação das medidas cria um equilíbrio fiscal progressivo, distribuindo o ônus da tributação de forma mais justa entre consumo, renda e capital.
Perspectivas econômicas e fiscais
A ampliação da isenção do Imposto de Renda é vista por analistas como uma ação de duplo efeito: alívio ao contribuinte e estímulo ao consumo, ao mesmo tempo em que exige ajustes fiscais e novas fontes de arrecadação.
Para o governo federal, a medida é estratégica por fortalecer a confiança social e impulsionar o crescimento interno, num momento em que o país busca conciliar responsabilidade fiscal e inclusão econômica.
A médio prazo, a expectativa é de que o aumento da renda disponível estimule o mercado de trabalho formal e gere efeitos positivos sobre a arrecadação indireta, via consumo e produção.
Desafios e pontos de atenção
Embora amplamente celebrada, a mudança levanta debates sobre a sustentabilidade fiscal da política de isenção. A redução da base de arrecadação pode pressionar as contas públicas, caso a compensação via taxação de altas rendas e dividendos não se concretize conforme o previsto.
Outro desafio está na administração do imposto mínimo, que exigirá aprimoramentos nos sistemas da Receita Federal e maior transparência sobre a renda total declarada pelos contribuintes.
Ainda assim, especialistas consideram o movimento positivo, destacando que o país caminha para uma estrutura tributária mais justa e moderna, com redução da carga sobre o trabalho e aumento da contribuição sobre o capital.
O que muda na prática para o contribuinte
| Faixa salarial | Situação atual | Situação após aprovação |
|---|---|---|
| Até R$ 5.000 | Isento | Isento (sem retenção na fonte) |
| De R$ 5.001 a R$ 7.350 | Tributação parcial | Desconto escalonado |
| Acima de R$ 7.350 | Tributação progressiva até 27,5% | Mantida |
| Dividendos até R$ 50 mil/mês | Isentos | Mantidos isentos |
| Dividendos acima de R$ 50 mil/mês | Isentos | Taxados em 10% a partir de 2026 |
A nova isenção do Imposto de Renda representa um marco na política tributária brasileira, ao mesmo tempo em que sinaliza um reposicionamento do sistema fiscal em direção à progressividade.
Enquanto a maioria dos trabalhadores assalariados ganha alívio e maior renda disponível, contribuintes de alta renda e investidores passam a contribuir mais para o equilíbrio orçamentário.
Com a sanção presidencial, o Brasil dá um passo importante para modernizar seu modelo tributário, aproximando-se de práticas adotadas em economias avançadas — com maior justiça social e responsabilidade fiscal.






