Lucas Moraes campeão mundial W2RC repete feito histórico e recoloca o Brasil no topo da FIA
O Brasil voltou a ouvir seu nome ecoar com força em uma noite de gala do automobilismo mundial. E, desta vez, não foi no asfalto, nem em um circuito tradicional, mas no cenário mais duro e simbólico do esporte a motor: o deserto. O piloto Lucas Moraes campeão mundial W2RC recebeu o troféu do Campeonato Mundial de Rally Raid, o W2RC, em cerimônia da FIA realizada em Tashkent, no Uzbequistão, no último dia 12 de dezembro. A conquista, confirmada em outubro na etapa final da temporada, consolida um marco sem precedentes: é o primeiro título mundial da FIA no automobilismo off-road brasileiro.
O peso do feito vai além do troféu. A premiação recoloca o país no mapa dos campeões mundiais da FIA em um intervalo de 34 anos, desde a última consagração de Ayrton Senna na Fórmula 1. Lucas Moraes, que completou 36 anos no mesmo palco em que celebrou o título, não escondeu o simbolismo. A comparação com Senna não surge como exagero retórico, mas como contexto histórico: trata-se de uma vitória que rompe a barreira do nicho e traz ao público uma nova narrativa de protagonismo nacional, agora no rali.
A noite ainda teve outro brasileiro em destaque: Rafael Câmara, campeão da Fórmula 3 em 2025, foi eleito estreante do ano. A cena, com dois brasileiros sob holofotes de categorias distintas, reforça a percepção de que o país começa a construir um novo ciclo de relevância no automobilismo internacional, em diferentes frentes.
Um título mundial inédito para o off-road do Brasil
O W2RC é, hoje, a grande vitrine global do rally-raid, o rali de longa duração que reúne provas extremas, com terrenos variáveis e alto nível de exigência física, técnica e estratégica. Ser Lucas Moraes campeão mundial W2RC significa dominar não apenas velocidade, mas resistência, inteligência de prova e capacidade de manter constância em etapas que testam pilotos e máquinas ao limite.
No imaginário do esporte, o rali ocupa um lugar singular. Não há margem para erro como em competições de pista, porque a natureza muda o roteiro. Areia fofa, cascalho, trechos de terra mais batida, dunas móveis e visibilidade instável exigem leitura instantânea, tomada de decisão em alta velocidade e sincronia perfeita com a navegação. A vitória no Mundial é resultado desse conjunto e, no caso de Lucas, também da consolidação de uma trajetória construída em poucos anos no topo do off-road.
A consagração como Lucas Moraes campeão mundial W2RC também reconfigura a percepção sobre o Brasil nesse universo. O país sempre foi associado à excelência no asfalto, sobretudo pela Fórmula 1. No entanto, o off-road, apesar de tradição em provas nacionais, raramente aparecia como cenário para um título mundial FIA. Esse vácuo histórico foi preenchido com uma vitória que, por definição, carrega o rótulo de “primeira vez”.
A cerimônia da FIA e o off-road no centro do palco
A entrega do prêmio em Tashkent reuniu campeões de categorias consagradas sob chancela da FIA, como Fórmula 1, Mundial de Endurance, Fórmula E e outras competições internacionais. Em meio ao universo do asfalto, Lucas Moraes levou o deserto ao centro da cerimônia. O impacto não é apenas simbólico: é institucional. Quando o off-road aparece ao lado das grandes categorias, ele ganha legitimidade pública, espaço midiático e reconhecimento amplo.
Essa é uma das razões pelas quais a condição de Lucas Moraes campeão mundial W2RC pode ter efeito em cadeia. Títulos não mudam apenas carreiras. Eles mudam mercados, atraem patrocinadores e abrem portas para que modalidades de nicho tenham visibilidade e investimento. E Lucas tem consciência disso.
Três capítulos: da infância nas motos à consagração no deserto
A história que levou Lucas Moraes ao topo do Mundial de Rally Raid é, segundo ele próprio descreve, dividida em três capítulos. O primeiro começa cedo, ainda na infância, quando andava de moto com o pai aos quatro anos. Aos 15, entrou no profissional e construiu uma trajetória consistente no motocross, chegando a ser vice-campeão brasileiro e latino-americano pela Suzuki.
O motocross, por si só, já exige leitura de terreno, reflexos e controle de máquina em condições agressivas. Mas a vida do atleta virou quando uma lesão séria no quadril interrompeu o ciclo competitivo aos 21 anos. O impacto foi físico e emocional. Esse ponto de ruptura é decisivo para entender por que a conquista como Lucas Moraes campeão mundial W2RC tem também um caráter de reconstrução.
O segundo capítulo é incomum no esporte. Em vez de permanecer em transição dentro do automobilismo, Lucas deixou o Brasil e foi para o Vale do Silício, nos Estados Unidos. Estudou negócios, fez cursos, fundou uma startup de finanças pessoais e viveu a rotina de empreendedorismo e tecnologia. A empresa, chamada Olivia, foi adquirida pelo Nubank em 2021. Após esse movimento, Lucas voltou ao Brasil e abriu o caminho para o terceiro capítulo.
É aí que nasce a fase do rali profissional. Em pouco tempo, ele se tornou um dos nomes mais fortes do off-road mundial. Em 2019, venceu o Rally dos Sertões como o mais jovem campeão da história. Em 2023, estreou no Rally Dakar e terminou em terceiro lugar geral, em um dos resultados mais impressionantes para um estreante na categoria Carros em décadas, além de ser o melhor desempenho já registrado por um brasileiro. A partir daí, o salto para o Mundial era questão de maturação, e ela chegou com o título de 2025.
Motocross como base e a ciência da leitura do terreno
A lógica da pilotagem no deserto tem fundamentos que Lucas trouxe das motos. A leitura do terreno é decisiva. Areia, cascalho e trechos de terra compactada exigem ajustes no controle, na trajetória e na velocidade. A experiência do motocross, segundo ele, facilita essa interpretação, permitindo antecipar o comportamento do carro em ambientes instáveis.
O rali, porém, impõe diferenças claras. Enquanto o motocross é explosivo e curto, o rally-raid exige constância por longos períodos. A comparação com Fórmula 1 aparece como metáfora de exigência técnica. O Dakar, com cerca de 9 mil quilômetros em um conjunto de etapas, é uma prova que cobra não apenas agressividade, mas inteligência de sobrevivência. Ser Lucas Moraes campeão mundial W2RC significa, justamente, ter conseguido manter velocidade e foco em um calendário de provas duras, sobretudo as de deserto.
Um ano de obstáculos e a vitória da regularidade
O título mundial não veio em linha reta. O piloto descreve que a temporada começou difícil, com desafios que custaram tempo e exigiram ajustes de equipe, estratégia e desempenho. Em determinado momento, ele chegou a ocupar a quinta colocação no campeonato. O cenário pedia reação, consistência e execução sem falhas.
Ao longo das etapas, sobretudo as mais duras, o ponto-chave foi manter ritmo constante e administrar riscos. No rally-raid, ser rápido não é suficiente. É preciso ser rápido por tempo prolongado, evitando erros que custam minutos, horas ou até a prova. A conquista que transformou o piloto em Lucas Moraes campeão mundial W2RC é, em essência, a vitória da regularidade em um esporte em que a imprevisibilidade é regra.
O “casamento” dentro do carro: confiança e navegação
No rali, o piloto não vence sozinho. A relação com o navegador é parte do motor invisível da performance. Lucas descreve essa parceria como um casamento baseado em confiança total. A navegação exige decisões rápidas, instruções precisas e um idioma próprio, um dialeto interno que reduz palavras e aumenta eficiência. Em alta velocidade, não há espaço para dúvida.
A presença desse componente humano é uma das razões pelas quais o Lucas Moraes campeão mundial W2RC simboliza também um triunfo de equipe. A constância depende de sinergia, preparação e alinhamento. E, quando o ambiente é o deserto, qualquer falha vira custo.
A missão de tornar o rali menos nichado no Brasil
Lucas Moraes afirma que seu grande desejo é fazer o esporte crescer. Ele parte de uma constatação direta: o brasileiro se engaja mais quando há vitória. E, por isso, é preciso continuar ganhando para o rali aparecer. A frase tem valor estratégico. O Brasil tem tradição em modalidades de base e em campeonatos nacionais, mas o rali ainda não ocupa o espaço cultural de outras categorias. A condição de Lucas Moraes campeão mundial W2RC funciona como catalisador de interesse, mídia, patrocínio e formação.
O título mundial muda a percepção sobre o rali. Não é mais um esporte distante ou exótico. Passa a ser um lugar onde o Brasil pode vencer, onde há bandeira no pódio e onde há um campeão mundial para inspirar novas gerações.
O próximo desafio: Dakar abre o calendário de 2026
O foco agora se volta para o Rally Dakar, que abre o calendário do Mundial de Rally Raid de 2026 em 3 de janeiro. Lucas fará sua estreia pela Dacia Sandriders, um novo capítulo em termos de equipe, projeto e expectativas. O objetivo é claro: falta ganhar o Dakar. O título mundial já está na estante, mas o Dakar é o troféu que define lendas no rally-raid.
O desafio é, novamente, colocar tudo junto de forma harmônica ao longo de 14 dias, com partes móveis, desgaste físico e mecânico, e a necessidade de manter a cabeça fria diante do imprevisível. O papel de Lucas Moraes campeão mundial W2RC entra em cena como credencial e como peso. O mundo espera de um campeão mundial a capacidade de transformar pressão em performance.
Ao recolocar a bandeira brasileira no topo dos pódios da FIA, Lucas Moraes amplia o mapa de ambição do país no esporte a motor. Não se trata apenas de celebrar um título. Trata-se de abrir caminho para que o automobilismo brasileiro tenha um novo território de conquista, agora no deserto, em uma modalidade que exige coragem, método e constância. E, a partir daqui, o desafio passa a ser não só manter o Brasil no topo, mas transformar o rali em parte do imaginário esportivo nacional.






