PEC da Segurança: Lula mobiliza ministros ex-governadores para ampliar articulação no Congresso
A estratégia do governo federal para fortalecer a segurança pública entrou em uma nova fase nesta quinta-feira (13/11), após uma reunião no Palácio do Planalto em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou maior empenho político de seus ministros que já governaram estados. O objetivo é ampliar a articulação pela aprovação da PEC da Segurança, do PL Antifacção — rebatizado como marco legal da segurança — e do PL do Devedor Contumaz.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, afirmou após o encontro que Lula pediu atenção redobrada desses ministros para dialogar com bancadas, lideranças partidárias e governadores. A avaliação interna é que um movimento concentrado de articuladores com experiência administrativa estadual pode influenciar diretamente no ritmo de votação do pacote legislativo ligado à segurança pública.
O tema entrou definitivamente no centro da agenda do governo diante de pressões crescentes por respostas institucionais mais robustas ao avanço de facções, crescimento da criminalidade organizada e desequilíbrios gerados pela atuação de grupos com histórico de reincidência fiscal.
Ex-governadores terão papel-chave na aprovação da PEC da Segurança
O apelo presidencial teve como foco os ministros com maior vivência no debate federativo da segurança pública. Participaram da reunião:
-
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ex-governador de São Paulo
-
Rui Costa, chefe da Casa Civil e ex-governador da Bahia
-
Renan Filho, ministro dos Transportes e ex-governador de Alagoas
-
Camilo Santana, ministro da Educação e ex-governador do Ceará
-
Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento Social e ex-governador do Piauí
-
Waldez Góes, ministro do Desenvolvimento Regional e ex-governador do Amapá
O encontro também contou com ministros de áreas diretamente afetadas pelo debate legislativo: Ricardo Lewandowski (Justiça) e Fernando Haddad (Fazenda).
A avaliação é que esses ex-governadores conhecem com profundidade a dinâmica estadual da segurança, possuem trânsito consolidado com lideranças regionais e conseguem qualificar o diálogo com parlamentares de diferentes espectros políticos. Para o governo, esse movimento pode ser determinante na tramitação da PEC da Segurança, que tem sido alvo de intensas negociações.
Avanço no marco legal da segurança ainda enfrenta divergências
Embora o Executivo considere o tema central para a agenda institucional, o texto do PL Antifacção — agora chamado de marco legal da segurança — ainda é alvo de divergências internas. A leitura do governo é que algumas definições do projeto precisam ser ajustadas antes da votação.
A PEC da Segurança é tratada como prioridade por ex-governadores e secretarias técnicas, mas pontos sensíveis permanecem pendentes no marco legal apresentado à Câmara. Entre as principais preocupações, estão:
Pontos que geram resistência no governo:
-
Definição considerada imprecisa para o tipo penal destinado às facções
-
Direcionamento de recursos do Fundo Nacional Antidrogas (Funad) exclusivamente para a Polícia Federal
-
Retorno do perdimento extraordinário de bens, mecanismo com forte impacto patrimonial
-
Riscos de insegurança jurídica em execuções penais e administrativas
Apesar das divergências, o governo diz estar pronto para ampliar debates no Plenário caso o texto seja levado à votação mesmo com pendências. Para a articulação política, a meta é construir ajustes até a próxima semana, reduzindo a probabilidade de disputas prolongadas durante a fase de deliberações.
Articulação no Congresso deverá se intensificar nos próximos dias
A Câmara dos Deputados indicou que o marco legal da segurança pode entrar na pauta já na próxima terça-feira (18/11). Em resposta, a SRI prepara uma atuação direta com líderes partidários para antecipar votos favoráveis à PEC da Segurança e aparar arestas do PL Antifacção.
A estratégia envolverá:
-
Mobilização de ex-governadores, que conhecem o impacto da segurança pública nos estados
-
Busca por consenso mínimo sobre o texto final
-
Mapeamento dos pontos de dissenso entre bancadas de oposição e independentes
-
Intensificação de reuniões técnicas antes de terça-feira
A ordem é não deixar a pauta avançar sem alinhamento mínimo, mas o governo admite que, se não houver tempo hábil para novas alterações, partirá para o debate direto em plenário.
PEC da Segurança: o que muda na prática
A PEC da Segurança prevê novas diretrizes constitucionais para reforçar a cooperação entre União, estados e municípios. O objetivo é expandir instrumentos legais de combate ao crime organizado, melhorar a gestão integrada das forças de segurança e criar novos parâmetros de atuação conjunta.
Entre os dispositivos debatidos na PEC estão:
Pontos centrais da PEC da Segurança
-
Reforço da coordenação nacional entre polícias e órgãos de segurança
-
Ampliação de ferramentas de investigação sobre facções em atuação interestadual
-
Mecanismos de integração de bases de dados criminais
-
Possibilidade de ações conjuntas mais estruturadas entre União e estados
-
Maior transparência na gestão de recursos para ações de segurança
A proposta, no entanto, ainda depende de negociações para definir a redação final e os limites constitucionais de cada dispositivo.
O papel dos ministérios envolvidos
Além dos ex-governadores, outras pastas participam diretamente do debate. O Ministério da Justiça atua como eixo técnico, avaliando impactos penais e processuais das propostas. A Fazenda analisa a redistribuição e o uso de fundos federais, preocupação que afeta diretamente o marco legal da segurança e o uso do Funad.
Já o Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Wellington Dias, acompanha implicações sociais do avanço do crime organizado, tema frequentemente associado a indicadores de pobreza, desigualdade e vulnerabilidade regional.
O PL do Devedor Contumaz e a relação com a agenda de segurança
Outro projeto mencionado por Lula é o PL do Devedor Contumaz, que propõe endurecer mecanismos de responsabilização para empresas e indivíduos que acumulam débitos tributários de modo recorrente, afetando a concorrência e a arrecadação pública. O governo entende que o tema tem interface com segurança pública por gerar distorções econômicas exploradas por organizações criminosas e redes ilícitas.
A aprovação do PL é vista como complementar à PEC da Segurança, compondo um conjunto legislativo voltado à modernização institucional.
Ambiente político: governo aposta no peso dos ex-governadores
Ao direcionar a articulação a ministros experientes, Lula tenta fortalecer a base governista em um dos debates mais sensíveis do ano legislativo. O governo reconhece que o tema exige habilidade política elevada, já que envolve:
-
disputas entre corporações da segurança pública
-
pressões de governadores
-
divergências internas da Câmara
-
impacto direto em políticas de segurança estaduais
Nesse cenário, a experiência administrativa dos ex-governadores é vista como trunfo estratégico. Cada um deles acumulou anos de gestão em áreas críticas, conhecendo os desafios reais dos estados — argumento que deve ser utilizado nas conversas com deputados e líderes partidários.
Como o pacote de segurança dialoga com a agenda nacional
A discussão em torno da PEC da Segurança ocorre em paralelo a uma intensificação do debate público sobre facções criminosas, avanço de organizações de tráfico, crimes cibernéticos e reincidência violenta. Estados pressionam pela ampliação de recursos federais, enquanto o governo busca equilibrar responsabilidade fiscal e investimentos estruturais.
O marco legal da segurança tenta unificar diferentes linhas dessa agenda, incorporando atualizações legislativas, ajustes operacionais e diretrizes nacionais de combate ao crime organizado. A intenção é construir um arcabouço duradouro, que transcenda governos e permita colaboração permanente entre diferentes esferas do Estado.
O que esperar dos próximos passos
Com a proximidade da votação, o clima no Congresso é de expectativa. A PEC da Segurança deverá enfrentar debate intenso, mas conta com apoio de governadores e gestores que lidam com pressões crescentes por respostas mais efetivas. Já o marco legal da segurança, por conter dispositivos polêmicos, pode demandar mais tempo de negociação.
O governo prepara um esforço concentrado até o início da próxima semana. Caso o projeto seja incluído na pauta sem alterações suficientes, a base governista já admite a possibilidade de disputa voto a voto em Plenário.
Independentemente do resultado imediato, analistas avaliam que o encontro desta manhã marca um ponto de inflexão na articulação federal sobre segurança pública, com a PEC da Segurança assumindo papel central no calendário legislativo.






