Câmara aprova regras do IBS e avança na regulamentação da reforma tributária
A reforma tributária IBS deu mais um passo decisivo no Congresso Nacional com a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do texto-base do segundo projeto de regulamentação do novo sistema de impostos sobre o consumo. A votação, realizada na noite desta terça-feira (16), consolida regras centrais para a gestão e a fiscalização do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), pilares do novo modelo tributário brasileiro.
O texto foi aprovado por ampla maioria, com 330 votos favoráveis e 104 contrários, refletindo um esforço de articulação que atravessou governo, lideranças partidárias e setores econômicos interessados em dar previsibilidade ao sistema tributário. Ainda restam destaques a serem analisados, mas o núcleo da proposta já define como funcionará a arrecadação, a distribuição e o controle do novo imposto que substituirá tributos históricos como ICMS e ISS.
A aprovação do texto-base representa um marco na implementação da reforma tributária IBS, considerada uma das mudanças estruturais mais relevantes da economia brasileira nas últimas décadas. O objetivo central é simplificar o sistema, reduzir distorções, eliminar cumulatividade e aumentar a transparência na cobrança de impostos sobre o consumo.
O que muda com o novo modelo do IBS
Criado no bojo da reforma tributária, o IBS nasce com a missão de unificar a tributação sobre bens e serviços hoje fragmentada entre estados e municípios. Ao substituir o ICMS, de competência estadual, e o ISS, de competência municipal, o novo imposto busca criar um ambiente mais racional, com regras uniformes e menor litigiosidade.
O texto aprovado estabelece que o IBS será administrado pelo Comitê Gestor do IBS (CG-IBS), órgão que reunirá representantes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Caberá a esse comitê coordenar a arrecadação, a fiscalização, a cobrança e a distribuição das receitas, além de definir metodologias de cálculo e critérios de repartição.
Na prática, a reforma tributária IBS rompe com o modelo atual, marcado por disputas federativas, guerra fiscal e interpretações divergentes da legislação. A centralização da gestão busca garantir tratamento isonômico aos contribuintes e reduzir custos indiretos embutidos na produção e na prestação de serviços.
Impactos diretos no mercado financeiro
Um dos pontos mais sensíveis do texto aprovado diz respeito ao sistema financeiro. O substitutivo validado pela Câmara incorpora as regras definidas anteriormente pelo Senado, que estabelecem alíquotas específicas do IBS e da CBS para o setor entre 2027 e 2033.
Diferentemente do modelo inicial, que previa a manutenção da carga tributária com base em médias históricas dos tributos extintos, o novo texto define alíquotas progressivas ao longo do período de transição. A alíquota combinada começará em 10,85% em 2027 e 2028, subirá gradualmente até alcançar 12,5% em 2033.
Essa definição traz maior previsibilidade ao setor financeiro, que vinha pressionando por regras claras diante do impacto potencial da reforma tributária IBS sobre operações de crédito, investimentos e serviços bancários. Ao mesmo tempo, o texto prevê mecanismos de desconto temporário nas alíquotas caso o novo imposto seja cobrado simultaneamente com tributos antigos durante a transição.
Transição gradual para evitar choques econômicos
A fase de transição é um dos elementos centrais da reforma tributária IBS. Para evitar impactos abruptos sobre empresas e consumidores, o texto estabelece reduções progressivas nas alíquotas durante o período em que IBS e CBS coexistirem com ISS e outros tributos extintos.
Entre 2027 e 2032, haverá abatimentos graduais que começam em dois pontos percentuais e diminuem ano a ano. O desenho busca suavizar a adaptação ao novo sistema e reduzir riscos de aumento repentino da carga tributária efetiva.
Esse modelo de transição longa foi defendido por parlamentares e setores produtivos como forma de preservar a estabilidade econômica e permitir ajustes operacionais, especialmente em empresas de menor porte ou em cadeias produtivas mais complexas.
Inclusão de programas de fidelidade e milhas aéreas
Outro avanço relevante do texto aprovado é a inclusão das empresas que administram programas de fidelidade, como sistemas de milhagem aérea, no regime tributário específico aplicado ao sistema financeiro. Até então, esse segmento operava em uma zona cinzenta do ponto de vista tributário, com diferentes interpretações sobre a incidência de impostos.
Com a reforma tributária IBS, esses programas passam a ter regras mais claras, o que tende a reduzir disputas judiciais e aumentar a previsibilidade para empresas e consumidores. A mudança também dialoga com a modernização do sistema tributário, ao reconhecer novos modelos de negócio que ganharam escala nos últimos anos.
Imposto Seletivo e pontos ainda em disputa
Embora o texto-base tenha sido aprovado, alguns temas seguem pendentes e serão analisados por meio de destaques. Entre eles está a definição de uma alíquota máxima para o Imposto Seletivo sobre bebidas açucaradas, proposta que gera debate entre defensores da saúde pública e representantes da indústria.
Também estão em discussão ajustes na lista de medicamentos isentos, mudanças nas alíquotas aplicáveis às Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) e outros pontos específicos que podem alterar o impacto setorial da reforma tributária IBS.
Esses debates mostram que, apesar do avanço institucional, a reforma ainda enfrenta disputas políticas e econômicas, especialmente quando envolve setores organizados e temas sensíveis ao eleitorado.
Benefícios fiscais e inclusão social
O texto aprovado também trouxe mudanças relevantes em benefícios fiscais voltados à inclusão social. Um exemplo é a atualização das regras para a compra de automóveis por pessoas com deficiência. O limite de preço dos veículos aptos ao benefício foi elevado de R$ 70 mil para R$ 100 mil, corrigindo uma defasagem que vinha reduzindo, na prática, o acesso ao incentivo.
Além disso, o período mínimo para troca do veículo com isenção foi reduzido de quatro para três anos, ampliando a flexibilidade para os beneficiários. Essas medidas mostram que a reforma tributária IBS não se limita a questões fiscais, mas também incorpora ajustes de caráter social.
Economia circular e setores específicos
Outro ponto aprovado diz respeito às bebidas vegetais produzidas a partir de cereais, frutas, leguminosas, oleaginosas e tubérculos, que passam a contar com redução de 60% nas alíquotas dos novos tributos. A medida dialoga com tendências de consumo e sustentabilidade, além de reconhecer a especificidade desses produtos em relação às bebidas tradicionais.
Essas exceções e reduções demonstram que a reforma tributária IBS busca equilibrar simplicidade com sensibilidade setorial, ainda que isso gere debates sobre a extensão das alíquotas diferenciadas.
Governança do Comitê Gestor do IBS
O Comitê Gestor do IBS emerge como uma das peças mais estratégicas do novo sistema. Com representantes de todos os entes federativos, o órgão terá papel decisivo na harmonização das regras e na resolução de conflitos.
Sua atuação será fundamental para evitar a reprodução, em novo formato, das disputas que marcaram o ICMS e o ISS. A credibilidade da reforma tributária IBS dependerá, em grande medida, da capacidade do CG-IBS de operar com transparência, eficiência e equilíbrio federativo.
Um passo decisivo, mas não final
A aprovação do texto-base na Câmara consolida um avanço importante, mas não encerra o processo. Ainda haverá análise de destaques, possíveis ajustes no Senado e, posteriormente, a sanção presidencial. Além disso, a implementação prática do novo sistema exigirá regulamentações infralegais, adaptação tecnológica e capacitação de administrações tributárias.
Mesmo assim, o avanço da reforma tributária IBS já produz efeitos relevantes sobre expectativas de investidores, planejamento empresarial e debate econômico. A simplificação do sistema é vista como condição essencial para elevar a produtividade, reduzir o chamado “custo Brasil” e criar um ambiente mais favorável ao crescimento de longo prazo.
Ao estabelecer regras claras para o IBS, o Congresso sinaliza que, apesar das divergências políticas, há consenso sobre a necessidade de modernizar a tributação do consumo. O desafio agora será transformar o desenho legal em um sistema funcional, capaz de entregar os ganhos prometidos à economia brasileira.






