Taxa Selic em foco: DIs longos recuam com mercado à espera de Galípolo
A taxa Selic voltou ao centro das atenções do mercado financeiro nesta segunda-feira, em um pregão marcado por leves ajustes nos juros futuros de longo prazo e por uma agenda dominada pela expectativa em relação ao discurso do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Com os investidores monitorando simultaneamente o cenário externo e os sinais da política monetária doméstica, os contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) mais longos abriram o dia em queda moderada, refletindo o movimento dos Treasuries norte-americanos e a leitura das novas projeções divulgadas no boletim Focus.
Enquanto os juros globais de longo prazo recuam diante da maior probabilidade de corte na taxa básica dos Estados Unidos, o mercado local calibra as apostas sobre o próximo passo da taxa Selic, hoje em 15% ao ano. Uma parte relevante dos agentes já considera a possibilidade de início do ciclo de flexibilização em janeiro, com corte de 25 pontos-base, ainda que o Banco Central mantenha discurso cauteloso. A combinação de DIs longos em baixa, curvas de juros externas mais benignas e revisão das expectativas no Focus reforça o ambiente de transição, no qual cada sinal emitido pelo BC pode redefinir o mapa das apostas.
DIs longos acompanham recuo dos Treasuries
No início da manhã, a curva de juros refletia com clareza o efeito do ambiente internacional. A taxa do DI para janeiro de 2028 recuava levemente, permanecendo na casa de 12,9% ao ano, enquanto o contrato para janeiro de 2035 se mantinha em torno de 13,4%. Não houve movimento abrupto, mas o suficiente para sinalizar um ajuste fino de prêmios de risco, típico de sessões em que o investidor prefere aguardar comunicações oficiais antes de assumir posições mais agressivas.
Esse comportamento está diretamente ligado à percepção sobre a taxa Selic no médio e no longo prazo. Quando as taxas dos DIs de vencimentos distantes cedem, ainda que de forma marginal, o recado implícito é que o mercado começa a precificar um ambiente menos pressionado adiante, seja por inflação mais controlada, seja por um ciclo de queda gradual da taxa básica.
Ao mesmo tempo, o recuo dos Treasuries de dez anos, que são referência global para decisões de investimento, contribui para aliviar parte da pressão sobre os ativos de países emergentes. Na sessão desta segunda-feira, o rendimento do papel de dez anos caía em torno de 1 ponto-base, movimento que, mesmo discreto, abre espaço para ajustes na curva doméstica de juros e favorece uma visão ligeiramente mais confortável em relação à taxa Selic no horizonte de tempo mais longo.
Fed, juros globais e reflexos na taxa Selic
A dinâmica da taxa Selic não pode ser analisada isoladamente do quadro internacional. Na sexta-feira, o mercado de títulos norte-americano voltou a precificar como majoritária a probabilidade de corte de juros pelo Federal Reserve em dezembro. A leitura recente aponta algo próximo a três quartos das apostas indicando redução de 25 pontos-base, contra uma fatia minoritária que ainda projeta manutenção dos Fed Funds na faixa de 3,75% a 4,00%.
Esse realinhamento das expectativas nos Estados Unidos teve efeito imediato nos Treasuries de longo prazo, com queda das taxas e melhora do apetite por risco. Para o Brasil, esse movimento é crucial. Se os juros norte-americanos recuam, o prêmio exigido pelos investidores para carregar ativos de países emergentes tende a diminuir, abrindo espaço para uma trajetória menos pressionada da taxa Selic ao longo do tempo.
Na prática, um ambiente externo mais benigno permite ao Banco Central calibrar a política monetária com alguma margem adicional, sem necessariamente intensificar o aperto para conter pressões vindas de fora. Ainda assim, a autoridade monetária costuma agir com prudência, especialmente em um contexto em que a inflação ainda está acima do centro da meta e o fiscal segue no radar.
O papel da taxa Selic nas decisões de portfólio
A taxa Selic em 15% ao ano permanece como principal âncora de retorno para investidores locais. Esse nível elevado de juros básicos influencia praticamente todas as decisões de alocação, desde o pequeno poupador até grandes gestores institucionais. Com a taxa em patamar restritivo, ativos de renda fixa tradicional seguem oferecendo retorno atrativo, reduzindo o incentivo imediato para migração em massa para instrumentos de maior risco.
Entretanto, a sinalização de que a taxa Selic pode começar a cair em 2025, ainda que de forma gradual, começa a reposicionar o debate. Parte do mercado já faz contas projetando como ficará a rentabilidade de títulos prefixados, pós-fixados atrelados ao CDI e papéis indexados à inflação em um cenário de normalização monetária. Essa leitura se reflete diretamente na curva de DIs, especialmente nos vencimentos mais longos, que funcionam como termômetro das expectativas futuras.
Quando as taxas dos DIs recuam, ainda que marginalmente, isso indica que os investidores começam a exigir um prêmio de risco um pouco menor para aceitar carregar esses contratos, o que está diretamente relacionado à percepção de que a taxa Selic não deverá permanecer indefinidamente em níveis tão elevados.
Galípolo em foco: expectativa para o almoço da Febraban
A agenda doméstica desta segunda-feira é dominada pela participação de Gabriel Galípolo no tradicional almoço anual da Febraban. O discurso do presidente do Banco Central vem sendo aguardado com atenção pelo mercado, que busca qualquer pista adicional sobre o ritmo e o horizonte da taxa Selic.
Até aqui, a comunicação oficial do BC tem sido marcada por cautela. Apesar de reconhecer avanços pontuais no combate à inflação, a autoridade monetária enfatiza que o processo de desinflação ainda não está concluído e que riscos permanecem no radar. Esse tom vigilante ajuda a ancorar expectativas e a conter apostas mais ousadas em cortes agressivos da taxa Selic em curto espaço de tempo.
O mercado, por sua vez, tentará captar nuances: eventuais menções a atividade econômica, crédito, mercado de trabalho, balanço de riscos e condição fiscal podem ser interpretadas como sinais antecipados de qual será a estratégia para a taxa Selic em 2025 e 2026. Em um ambiente de juros elevados por período prolongado, qualquer nuance ganha peso.
Boletim Focus ajusta projeções e reforça cenário de Selic alta por mais tempo
O boletim Focus divulgado nesta manhã reforçou a ideia de que a taxa Selic seguirá em terreno restritivo por mais algum tempo, ainda que com sinais de alívio no horizonte. A mediana das projeções dos economistas para o fim deste ano foi mantida em 15%, o que indica que a maioria do mercado ainda não enxerga espaço para cortes antes de dezembro.
Para 2026, porém, houve nova revisão nas estimativas. A projeção para a taxa Selic no fim daquele ano recuou de 12,25% para 12,00%, sinalizando uma visão de normalização gradual e prolongada. Não se trata de um ciclo de afrouxamento brusco, mas de uma queda cuidadosa, calibrada conforme o comportamento da inflação e a evolução do quadro fiscal.
Nos preços, a leitura também favorece um pouco mais de tranquilidade. A inflação esperada para este ano recuou marginalmente, de 4,46% para 4,45%, enquanto a estimativa para o ano seguinte passou de 4,20% para 4,18%. Os ajustes são pequenos, mas reforçam a percepção de que o processo de convergência segue em andamento, ainda que lentamente. Esse quadro, somado a juros globais mais comportados, ajuda a sustentar a visão de que a taxa Selic poderá iniciar um ciclo de queda em algum momento do próximo ano, desde que o BC veja essas tendências como consistentes.
Curva de juros, dólar e o efeito combinado das expectativas
O comportamento da curva de DIs, do câmbio e das expectativas de inflação está profundamente interligado à trajetória da taxa Selic. Nesta sessão, a queda suave dos juros futuros mais longos veio acompanhada de um recuo moderado do dólar frente ao real, em um ambiente de menor aversão global ao risco.
Quando os Treasuries recuam, o dólar tende a perder parte da força, abrindo espaço para valorização de moedas emergentes. Isso, por sua vez, reduz uma das principais fontes de pressão inflacionária – a desvalorização cambial – e fortalece o argumento de que a taxa Selic pode, em algum momento, migrar para patamar menos restritivo sem desancorar expectativas.
Ainda assim, o movimento é observado com prudência. Uma eventual reprecificação do cenário internacional, com retomada da alta nos juros norte-americanos, poderia rapidamente alterar o quadro. Por isso, a comunicação do BC em relação à taxa Selic tende a continuar enfatizando a necessidade de cautela, mostrando que o processo de flexibilização, quando vier, será condicionado a dados.
Política monetária, fiscal e o equilíbrio delicado da Selic
A taxa Selic também reflete o grau de confiança do mercado na política fiscal. Projeções de trajetória da dívida pública, percepção sobre o cumprimento de metas de resultado primário e estabilidade do arcabouço fiscal influenciam diretamente o prêmio de risco embutido nas taxas de longo prazo.
Se o fiscal inspira dúvidas, o BC é pressionado a manter a taxa Selic mais alta por mais tempo, para compensar o aumento de risco e conter possíveis pressões inflacionárias vindas da desvalorização do câmbio. Em sentido contrário, a sinalização de disciplina fiscal e avanço de reformas estruturais ajudam a reduzir o prêmio, facilitando a condução de um ciclo de cortes graduais.
No momento, o mercado acompanha de perto as discussões em torno das contas públicas e da execução do orçamento. A percepção sobre essa agenda será levada em conta tanto nas projeções do Focus quanto nas decisões futuras do Comitê de Política Monetária (Copom), que tem na taxa Selic seu principal instrumento.
O que o investidor deve observar a partir de agora
Com a taxa Selic em patamar elevado e o mercado começando a precificar um ambiente de normalização adiante, o investidor precisa acompanhar uma combinação de elementos. Em primeiro lugar, a comunicação do Banco Central, sobretudo nas falas de Galípolo e nas atas e comunicados do Copom, continuará sendo o guia principal.
Em segundo lugar, os dados de inflação, atividade e mercado de trabalho serão fundamentais para confirmar ou revisar as apostas. Qualquer surpresa altista relevante no IPCA, por exemplo, tende a atrasar a trajetória de queda da taxa Selic. Já surpresas baixistas consistentes podem antecipar ou acelerar o processo.
Por fim, o cenário externo seguirá exercendo papel relevante. A confirmação de cortes de juros pelo Fed, combinada a uma inflação global em queda, reforça o ambiente para que a taxa Selic volte gradualmente a patamares mais compatíveis com uma economia que busca conciliar controle de preços e crescimento.
Até lá, movimentos como o desta segunda-feira – com DIs longos recuando levemente, Treasuries em baixa e o mercado atento a cada palavra de Galípolo – tendem a se repetir. A taxa Selic seguirá no centro do tabuleiro, determinando a direção das curvas, o apetite por risco e as estratégias de alocação.






