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ENTREVISTA: É oneroso ficar perto de Bolsonaro, diz pesquisadora | Política

04/04/2025
em Economia
Foto22Pol 201 Isabela A10 Gazeta Mercantil


Responsável por pesquisar a extrema direita há mais de dez anos, muito antes da ascensão de Jair Bolsonaro, a antropóloga Isabela Kalil avalia que a decisão de sexta-feira (31) da Justiça Eleitoral tende a descolar a classe política do ex-presidente, que teve os direitos políticos cassados por oito anos. Os principais atores, observa, caminham rumo à retomada da normalidade institucional.

“É muito oneroso para a classe política ficar ao lado de Bolsonaro”, afirma Kalil, que vê até Michelle Bolsonaro tentando demarcar diferenças em relação ao marido. “Os herdeiros na política nacional tendem a performar um bolsonarismo de baixa intensidade.”

A professora da FESPSP e coordenadora do Observatório da Extrema Direita acredita que o impacto recairá também sobre apoiadores de Bolsonaro, com a fragmentação de segmentos que se uniram em torno do ex-presidente nos últimos anos. Haverá ainda um alto custo para quem ousar proferir ataques às instituições.

Além de paradigmática no sentido de estabelecer uma intransigente defesa da ordem democrática, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) marca um momento importante do combate à desinformação, alega a pesquisadora. Um dos motivos que levaram Bolsonaro à inelegibilidade, afinal, envolvia o uso indevido da TV Brasil para propagar ataques às urnas eletrônicas. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

1 de 1 Isabela Kalil: Bolsonarismo é um fenômeno que transcende a figura de Bolsonaro e tem paralelo com terraplanismo — Foto: Divulgação

Isabela Kalil: Bolsonarismo é um fenômeno que transcende a figura de Bolsonaro e tem paralelo com terraplanismo — Foto: Divulgação

Valor: Fala-se muito que o grau de ameaça de Bolsonaro à democracia foi subestimado. A decisão do TSE corrige isso?

Isabela Kalil: Bolsonaro fez ao longo de sua trajetória política várias ações que eram preocupantes o suficiente para que houvesse sanções: homenageou torturador na Câmara, sendo que tortura não é tolerável pelo Estado brasileiro, atacou inúmeras vezes o sistema eleitoral, as instituições, o sistema político. Esse discurso não foi um caso isolado na reunião com os embaixadores, mas o que estava em jogo especificamente no julgamento era uma questão muito pontual. A decisão foi acertada em relação a manter em questão aquela situação e os seus desdobramentos, que têm a ver inclusive com o fato de ter sido transmitido pela TV Brasil e reverberado nas redes sociais.

Valor: É paradigmática nesse sentido?

Kalil: Essa parte específica do uso indevido dos meios de comunicação traz uma coisa relevante: o fato de que o que está se considerando ali é também o lugar das redes sociais, das notícias fraudulentas, das estratégias de desinformação. Houve uma resposta institucional que faz muito sentido para pensar os desafios da política no campo da comunicação, algo fundamental para a democracia. A decisão tem um marco relevante para esse paradigma. O que estava sendo julgado não era o bolsonarismo em si, e sim um fato específico. Ressalto isso porque Bolsonaro não inventou a desinformação, mas a campanha em que tivemos um maior resultado da desinformação, que mudou o paradigma da política, foi a de Bolsonaro em 2018. Uma das marcas do bolsonarismo é essa mudança significativa.

Valor: Como avalia a reação de Bolsonaro e dos apoiadores dele ao julgamento?

Kalil: Se fizer uma comparação entre Donald Trump e Bolsonaro, considerando que os dois presidentes, de maneiras distintas, passam pelo escrutínio do 6 de janeiro [invasão do Capitólio, nos Estados Unidos] e do 8 de janeiro, Trump tem sido muito mais hábil em emplacar uma narrativa de que está sendo perseguido juridicamente e de que essa perseguição pode afetar seus eleitores. Criou uma narrativa de identificação, tem sido mais hábil em lucrar com isso. Bolsonaro não conseguiu ter condições de emplacar a narrativa. A falta de uma mobilização pró-Bolsonaro é reflexo disso.

Valor: Os apoiadores ficaram sem saber o que defender?

Kalil: Depois do 8 de janeiro, os apoiadores, que são de segmentos diferentes, tiveram um tipo de resposta narrativa que fez o bolsonarismo se reorganizar rapidamente. Uma resposta era que as pessoas que estavam lá eram patriotas, idosas, que não eram violentas – o prejuízo às instituições, a materialidade, teria sido alvo de pessoas infiltradas. Essa narrativa emplacou muito rapidamente, combinada com a alegação de suposta violação de direitos humanos das pessoas detidas. Depois disso, a máquina de desinformação não conseguiu emplacar uma resposta ao julgamento.

Valor: Há algum tipo de frustração com Bolsonaro entre os eleitores de extrema direita?

Kalil: Acompanhei uma manifestação bolsonarista ainda antes da pandemia em que vi pessoas insatisfeitas com Bolsonaro por não estar entregando uma radicalidade que ele tinha prometido, como o fechamento do Congresso. Havia ali a mensagem de que defendiam uma “ideia”, não uma pessoa. Isso começa pequeno em 2019, vai acontecendo, mas no período eleitoral de 2022 se acirra. Eleitores passam a pedir mensagens, a tentar entender o silêncio de Bolsonaro como mensagem, mas a expressar certa decepção quando ele não se posiciona no período pós-eleitoral com ataques mais enfáticos às instituições. A baixa mobilização de apoio a Bolsonaro no período do julgamento tem a ver com esse processo.

Valor: Como fica agora essa base dele?

Kalil: Bolsonaro foi capaz, e isso demorou muitos anos, de juntar diferentes segmentos da extrema direita, da direita e até do centro. Em 2018, conseguiu ter apoios de segmentos da população que são muito distintos. Acho muito pouco provável, olhando para o cenário político e social de hoje, que outra liderança consiga fazer isso. Nesse sentido, o mais provável em relação ao futuro do bolsonarismo, com o enfraquecimento institucional do Bolsonaro, é que esses segmentos se fragmentem, voltem a ser como eram. Uma agenda de homens armamentistas dificilmente vai agir junto com a de mulheres cristãs que militam num conservadorismo na área da Educação, por exemplo. Tende a ter uma divisão entre conservadorismo laico e conservadorismo religioso, entre agendas econômicas e de costumes. Não consigo ver uma figura que possa performar e ter a mesma capacidade de aglutinação que foi o Bolsonaro. Nenhum dos possíveis herdeiros políticos do Bolsonaro, hoje, tem essa capacidade.

Valor: Consegue vislumbrar como chegará o bolsonarismo para 2026?

Kalil: 2026 está muito longe e a inelegibilidade do Bolsonaro está muito recente. É preciso observar nos próximos meses como os atores políticos vão se movimentar. Dá para ter algumas pistas com as respostas, as manifestações de apoio, como a Michelle Bolsonaro se colocando à disposição do ponto de vista político-eleitoral. Agora, uma coisa que a gente já consegue fazer é pensar o que pode acontecer em 2024. O bolsonarismo tem feito um movimento de interiorização. Bolsonaro fez uma pré-campanha e uma campanha muito voltadas para o local, inaugurou pequenas obras, fez ‘motociatas’, ‘jetskiciatas’, ‘ambulanciatas’, ‘jegueatas’, uma série de mobilizações atípicas para o que se espera da Presidência, de alguém que se lança à reeleição. Do ponto de vista de uma política mais local, podemos ter um bolsonarismo com essa identidade que conhecemos, com posições mais parecidas com a de Bolsonaro, de ataques mais diretos. Acho que vamos continuar vendo isso no plano local, mas os herdeiros na política nacional tendem a performar um bolsonarismo de baixa intensidade. Isso não significa que seja menos de extrema direita ou menos perigoso, porque pode ser moderado na forma, mas não tão moderado na operação.

Valor: Devemos ver uma oposição mais normal ao governo Lula, sem esses radicalismos?

Kalil: A decisão de inelegibilidade do Bolsonaro afeta não só o Bolsonaro em si, mas a extrema direita como um todo, porque coloca um pouco mais freio, constrangimento e risco para um político que vai fazer ataques ao sistema eleitoral ou às instituições. Não significa que a extrema direita vai acabar, mas talvez demore um tempo para reorganizar sua performance. Vai ter que se reinventar no sentido daquilo que pode ou não dizer publicamente. Nos últimos anos, vimos políticos de extrema direita muito confortáveis em expressar posições antidemocráticas publicamente, seja em nome da religião, da liberdade de expressão… Se o Bolsonaro, que é a principal liderança da extrema direita e tem o peso de ter sido presidente, tornou-se inelegível e ainda vai enfrentar na Justiça outros processos, pode acontecer com qualquer político.

Valor: O presidente Lula ter estado no mesmo dia do julgamento de Bolsonaro com o governador do RS e possível adversário em 2026, Eduardo Leite, simboliza uma volta à normalidade?

Kalil: É interessante esse encontro com o Leite, e também de certa forma o Lula ter ignorado o julgamento do Bolsonaro. É uma posição acertada no sentido de tentar restabelecer a normalidade da política, algo que provavelmente vai ser feito por quase todos os atores, com exceção de políticos que se posicionam de forma clara na extrema direita. Mesmo quando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, demonstra um relativo apoio a Bolsonaro depois do resultado da inelegibilidade, não está fazendo ataque ao resultado, ao TSE. Nesse ponto, com pouquíssimas exceções, Bolsonaro ficou sozinho. Uma coisa é lamentar a sentença, outra é dizer que foi injusto, que é perseguição. Antes, ganhava-se politicamente de estar perto do Bolsonaro. Agora, é muito oneroso para a classe política ficar ao lado do Bolsonaro. Vejo isso até em relação à Michelle Bolsonaro.

Valor: Como, no caso de Michelle?

Lógico, ela depende do capital político de Bolsonaro. Como esposa, não consegue manter essa distância que determinados políticos podem manter, e é claro que se coloca como herdeira política de Bolsonaro, mas em vários momentos demarca uma distância. Sempre, de maneira mais ou menos sutil, marca essa distância de que Jair é uma pessoa e ela é outra. Essa posição é astuta. O mesmo vale para os filhos.


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