Vendas de Natal devem movimentar R$ 72,71 bilhões e impulsionar o varejo em 2025
O Natal permanece como o motor mais importante da atividade comercial brasileira, e as projeções para 2025 confirmam a força dessa data para a economia. De acordo com estimativas divulgadas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas no varejo devem alcançar R$ 72,71 bilhões neste fim de ano — um avanço real de 2,1% em relação ao mesmo período de 2024. O número, já descontado o efeito da inflação, aponta para o melhor desempenho natalino desde 2014, quando o setor movimentou R$ 77,26 bilhões.
O resultado representa um alívio para lojistas que enfrentaram um ano marcado pelo encarecimento do crédito, alto nível de endividamento das famílias e ritmo moderado do consumo. O desempenho, considerado positivo para um período de desaceleração, demonstra que o consumidor brasileiro mantém a tradição de intensificar compras no fim do ano, mesmo diante de pressões financeiras.
Segundo a CNC, o impulso vem especialmente de mercados essenciais, como supermercados, e segmentos fortemente associados às comemorações natalinas, como vestuário, calçados, presentes e utilidades domésticas. O crescimento é visto como fator de reequilíbrio para o comércio varejista, que tem buscado compensar meses de atividade fraca.
Supermercados lideram movimento e concentram quase metade das vendas
O levantamento mostra que os supermercados serão os principais responsáveis pelo volume de vendas no varejo neste Natal. A projeção é de que o setor movimente R$ 31,51 bilhões, o equivalente a 43,3% de toda a receita prevista para o período. Os supermercados, hipermercados e atacarejos reforçam sua posição de destaque ao absorver grande parte das compras relacionadas às ceias de fim de ano, confraternizações e reposição de itens alimentares típicos.
Além da demanda tradicional de dezembro, esse segmento tem ampliado sua participação devido à oferta crescente de produtos não alimentares, como eletrônicos básicos, brinquedos, artigos de decoração e utensílios domésticos. A maior diversificação de portfólio contribui para atrair consumidores em busca de conveniência e preços competitivos.
O desempenho do setor também reflete o comportamento do consumidor, que, ao longo de 2025, manteve preferência por compras presenciais em lojas físicas e atacarejos devido ao custo elevado de fretes e à necessidade de controlar gastos.
Vestuário e calçados seguem como segundo maior impulsionador da economia
O segundo maior impulso nas vendas no varejo virá das lojas de roupas e calçados, com previsão de movimentar R$ 22,82 bilhões (31,4% do total). Esse segmento tradicionalmente cresce no fim do ano, impulsionado pela busca por presentes e pela renovação do guarda-roupa para festas, viagens e eventos sociais.
Embora o setor de moda tenha enfrentado perda de fôlego ao longo do ano devido ao preço elevado dos insumos e recuo da renda disponível, o Natal tende a compensar parte das dificuldades. A melhora gradual da confiança do consumidor também contribui para decisões de compra mais otimistas, mesmo em cenário econômico moderado.
O setor espera alta tanto no varejo físico quanto no digital. Lojas independentes e redes de fast fashion projetam fluxo intenso de consumidores até a véspera da data, apoiadas em promoções agressivas e condições facilitadas de pagamento.
Emprego temporário cresce e deve reforçar atividade econômica
Outro fator relevante nas projeções da CNC diz respeito à geração de empregos temporários. A entidade estima a abertura de 112,6 mil vagas sazonais para o Natal de 2025, um aumento significativo diante dos 107,1 mil postos criados no ano anterior. Se confirmada, será a maior contratação de temporários dos últimos cinco anos.
O setor de supermercados deve absorver quase metade das contratações — 49,42% das vagas — seguido por lojas de vestuário e calçados (22,58%) e por estabelecimentos de utilidades domésticas e eletroeletrônicos (16,82%). A remuneração média prevista para esses trabalhadores é de R$ 1.983,54, valor 7,4% superior ao praticado no último ano, refletindo a melhora gradual do mercado de trabalho formal.
Além das contratações temporárias, a CNC projeta que cerca de 11% dos trabalhadores serão efetivados após o período natalino, o que representa a manutenção de mais de 12 mil empregos. Esse indicador reforça o potencial multiplicador das vendas no varejo sobre o emprego e sobre a atividade econômica no início do próximo ano.
Sinalização positiva para 2026 com confiança crescente entre comerciantes
Um dos fatores que sustentam o otimismo para o desempenho no fim de 2025 é o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), que registrou alta em novembro. Cerca de 70% dos empresários consultados afirmaram planejar contratações e ações promocionais para o período compreendido entre a Black Friday e o Natal, reforçando a perspectiva de maior demanda.
O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, vê a tendência como indicadora de estabilidade no mercado de trabalho e de estímulo à economia no início de 2026. Embora o cenário fiscal ainda imponha desafios, o comércio se beneficia da queda da inflação, do alívio gradual dos juros e da reorganização do crédito a consumidores de baixa e média renda.
A combinação de projeções positivas para a renda e para o emprego no próximo ano pode contribuir para expansão moderada do consumo, mesmo em um ambiente de crescimento econômico reduzido.
Cesta natalina mais cara e escolhas de compra mais seletivas
Apesar do aumento no volume de vendas no varejo, os consumidores enfrentarão preços mais altos em vários itens relacionados ao Natal. A cesta de produtos típica da data teve inflação média de 2,5% em comparação com o ano anterior. Alguns itens, no entanto, apresentaram alta expressiva, especialmente no setor de presentes e acessórios pessoais.
Joias e bijuterias registraram aumento de 20,5% no período, reflexo da valorização de metais e da demanda crescente por produtos premium. Maquiagens subiram 8,4%, acompanhando a alta de insumos importados, enquanto os livros tiveram elevação de 7,2% devido a custos editoriais mais elevados.
Por outro lado, produtos relacionados a tecnologia e entretenimento mostraram deflação, oferecendo compensação ao bolso do consumidor. Telefones celulares ficaram 7,2% mais baratos, impulsionados por estoques elevados e competição de marcas asiáticas. TV, aparelhos de som, informática e vinhos registraram quedas de preços que variaram entre 1,2% e 4,5%.
Essa combinação de altas e baixas deve fazer com que os consumidores priorizem compras essenciais e optem por presentes de menor valor agregado, tendência observada também em 2023 e 2024.
A importância do varejo para o desempenho da economia brasileira
O comércio varejista desempenha papel estratégico na economia, representando parcela significativa da geração de empregos, da arrecadação e do crescimento do PIB. As vendas no varejo de fim de ano funcionam como termômetro do comportamento econômico e refletem tanto o nível de confiança dos consumidores quanto a capacidade das famílias de reorganizar o orçamento.
O avanço previsto pela CNC reforça uma recuperação gradual do setor após anos marcados pela pandemia, pela inflação elevada e pelas dificuldades de acesso ao crédito. A tendência, ainda que moderada, indica melhora na atividade, embora dependa de ajustes macroeconômicos que afetem diretamente o consumo, como o comportamento dos juros, o mercado de trabalho e a expansão da renda real.
Para 2026, comerciantes esperam que o ritmo de consumo se mantenha estável, desde que não haja pressões adicionais sobre preços e que o crédito consiga se normalizar diante da queda da inadimplência em segmentos de baixa e média renda.
Expectativas dos lojistas para a temporada de fim de ano
O movimento observado desde a Black Friday já revela que os consumidores estão dispostos a realizar compras de maior valor, desde que encontrem condições competitivas de pagamento. Lojas físicas e e-commerce passaram a oferecer parcelamentos mais longos e descontos mais agressivos, buscando garantir participação no volume total das vendas no varejo.
Os lojistas também têm investido em omnichannel, integrando lojas físicas, aplicativos e retiradas rápidas em pontos de coleta. A estratégia tem sido determinante para fortalecer vendas em dezembro, mês em que prazo de entrega se torna fator decisivo.
A expectativa é que o fluxo nas lojas cresça continuamente até o dia 24, com movimentação intensa sobretudo nos centros comerciais, bairros populares e shoppings.
As projeções para o Natal de 2025 reforçam a importância do período para o setor e mostram que as vendas no varejo seguem como eixo fundamental da economia brasileira. O crescimento de 2,1% em relação ao ano anterior sinaliza melhora do ambiente econômico, ainda que moderada, e demonstra que, mesmo em contexto de cautela, o consumidor mantém a tradição de presentear e celebrar.
O desempenho projetado, aliado ao aumento das contratações temporárias e à maior confiança empresarial, contribui para um cenário de estabilidade que pode fortalecer a atividade comercial no início de 2026. A recuperação do setor será determinante para consolidar avanços no mercado de trabalho, impulsionar a renda das famílias e estimular a retomada do crédito.
O Natal, como momento central do calendário varejista, continua sendo símbolo de oportunidade econômica e de reorganização das expectativas para o próximo ano.






