O teste de fogo do governo Lula para medir fidelidade da nova base do governo
A reestruturação da base do governo Lula entra em fase crítica com a escolha de um projeto-estratégico que servirá como litmus test da fidelidade parlamentar. A articulação liderada por Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, junto a líderes do Centrão e partidos aliados, foi acompanhada por redistribuição de cargos no segundo e terceiro escalão. Agora, o Executivo aposta na proposta de taxação de apostas (“bets”) e fintechs como o primeiro grande desafio institucional para validar a coesão da nova base.
Na avaliação de integrantes do governo, se o projeto passar sem resistências, será indício de que a base reorganizada — fruto de negociações entre PP, Republicanos e União Brasil — está funcionando. Caso contrário, o sinal será claro de que os ajustes realizados ainda não se traduziram em força política confiável.
Reordenamento da base e os gestos iniciais
A ministra Gleisi reuniu-se com as principais bancadas do Congresso para reforçar o alinhamento político-legislativo. Ocorreram movimentações estratégicas de cargos com o objetivo de preservar o apoio no Parlamento.
Como primeiro indicativo de sucesso dessa articulação, o governo obteve a aprovação de uma proposta de regularização de patrimônios, que incluiu a inclusão do programa Pé-de-Meia no piso constitucional da educação e a redução do prazo para pagamento de auxílio-doença do INSS.
Porém, o verdadeiro teste da fidelidade será a tramitação do projeto que visa tributar o setor de apostas e fintechs — tema considerado espinhoso dentro do Legislativo, com elevada resistência de grupos representados no Centrão. A base do governo Lula está sendo posta à prova.
Por que essa proposta se tornou o teste-chave da base?
A escolha desse projeto como teste estratégico não é aleatória. A taxação de bets e fintechs traduz dois vetores centrais da agenda da gestão: aumento da arrecadação fiscal e reafirmação de controle político sobre matérias sensíveis.
Uma derrota nesse tema indicaria fragilidade da base do governo Lula em garantir apoio para medidas com impacto tributário e regulatório, e poderia comprometer projetos futuros prioritários do Executivo.
Se a proposta avançar, será um demonstrativo de que o ambiente político está estabilizado e que houve, de fato, a reacomodação de força no Congresso.
Desafios e resistências no campo parlamentar
Apesar da base do governo Lula ter dado sinais positivos, a aprovação da taxação enfrenta obstáculos concretos. Líderes do Centrão já sinalizaram que o tema das bets e das fintechs pode provocar resistência expressiva.
O setor vulnerável às alterações tributárias, as fintechs, pode alegar que o aumento da carga tributária compromete o modelo de expansão de serviços financeiros de baixa renda. Já o segmento de apostas reúne interesses econômicos relevantes e lobby ativo no Congresso.
Essa combinação torna o projeto uma espécie de “campo minado” político, onde a base testará sua capacidade de coesão e articulação.
Implicações para o governo e para o Congresso
Se o teste da base do governo Lula for bem-sucedido, abre-se um caminho mais favorável para outras iniciativas de ajuste fiscal e reformas estruturais. A governabilidade ficaria reforçada e o Executivo ganharia fôlego para avançar com agenda mais ambiciosa.
Por outro lado, se houver falha ou recuo, o Legislativo poderá perceber fragilidade na articulação governista, e a relação entre Planalto e Parlamento poderá entrar em fase de desgaste. A confiança mútua e os acordos de apoio poderão enfraquecer, elevando o risco de obstrução e de custos políticos para o governo.
Contexto estratégico mais amplo
A escolha de usar a taxação de bets e fintechs como barômetro da base demonstra que o governo Lula está calibrando cuidadosamente seu arsenal político. A ministra Gleisi já promoveu redistribuição de cargos e alinhamento com bancadas, mas o cenário exige resultados concretos.
Além disso, o momento é sensível: com as eleições de 2026 se aproximando, a fidelidade da base e a capacidade de aprovar temas fiscais e regulatórios serão fatores críticos para a disputa. O governo precisa demonstrar capacidade de gestão e articulação para reforçar sua narrativa de estabilidade e continuidade.
O que está em jogo para o eleitorado e para o parlamento
Para o eleitor, esse teste da base do governo Lula traz sinais importantes sobre a governabilidade e a clareza da agenda futura. Projetos como o da taxação de fintechs e apostas impactam diretamente o sistema financeiro, a prestação de serviços e a arrecadação pública — temas que reverberam no cotidiano.
Para o parlamento, essa iniciativa representa um momento de definição entre trabalhar alinhado com o governo ou sinalizar autonomia. Bancadas que votarem com o Executivo podem garantir benefícios e cargos; as que resistirem expõem a fragilidade de seu suporte.
Perspectivas para os próximos meses
Nos próximos dias, a movimentação parlamentar-executiva será intensa. O governo Lula buscará consolidar o apoio da base antes de enviar o projeto ou de mobilizar sua aprovação com urgência. As sinalizações serão acompanhadas de perto por operadores políticos e financeiros.
Se o projeto avançar, a base do governo poderá adotar uma postura mais segura para propostas futuras. Caso contrário, o governo deverá rever sua estratégia de governança e articulação política.





