TikTok confirma acordos para joint venture nos EUA e avança em separação parcial da ByteDance
O TikTok deu um passo decisivo para redefinir sua presença no mercado norte-americano ao confirmar que assinou acordos vinculantes para a criação de uma joint venture do TikTok nos EUA, estrutura que passará a operar de forma independente e com controle majoritário de investidores americanos. A movimentação marca o avanço mais concreto, até agora, do plano de separação parcial da plataforma em relação à sua controladora chinesa, a ByteDance, após anos de impasses políticos, regulatórios e diplomáticos.
O anúncio foi feito internamente pelo diretor-presidente do TikTok, Shou Chew, em comunicado enviado aos funcionários, no qual detalhou a assinatura dos acordos com um grupo liderado pela Oracle e que inclui ainda a Silver Lake Management e a MGX, empresa de investimentos sediada em Abu Dhabi. A expectativa é que a operação seja concluída em janeiro de 2026, embora ainda dependa de etapas adicionais e de autorizações regulatórias, especialmente por parte da China.
Reação imediata do mercado e impacto nas ações da Oracle
A confirmação da joint venture do TikTok nos EUA teve reflexos imediatos no mercado financeiro. As ações da Oracle registraram forte valorização nas negociações iniciais do dia seguinte ao anúncio, sinalizando que investidores enxergam potencial estratégico no acordo. A participação da gigante de tecnologia no arranjo reforça seu papel como peça central na infraestrutura de dados e na segurança das operações do TikTok em território americano.
Para o mercado, o avanço do acordo reduz incertezas que pairavam sobre o futuro da plataforma nos Estados Unidos, onde o aplicativo é utilizado por cerca de metade da população e exerce influência significativa na cultura digital, no consumo e na publicidade.
Estrutura da nova joint venture americana
Segundo o memorando de Shou Chew, a joint venture do TikTok nos EUA será constituída como uma entidade independente, construída sobre a base da atual organização TikTok US Data Security (USDS). Essa nova empresa terá autoridade direta sobre temas considerados sensíveis pelo governo americano, como proteção de dados, segurança do algoritmo, moderação de conteúdo e garantia de software.
A governança também foi desenhada para atender às exigências políticas e regulatórias. O conselho de administração será composto por sete membros, com maioria de americanos, reforçando o argumento de que o controle efetivo das operações nos EUA estará sob influência local, e não estrangeira.
Participação acionária e papel da ByteDance
Apesar do avanço em direção a uma estrutura mais autônoma, a joint venture do TikTok nos EUA não representa uma separação total da ByteDance. Pelo desenho do acordo, cerca de 50% da participação ficará com novos investidores, incluindo Oracle, Silver Lake e MGX, cada uma com aproximadamente 15%. Outros 30,1% permanecerão com afiliadas de investidores já existentes da ByteDance, enquanto 19,9% continuarão diretamente sob controle da empresa chinesa.
Esse modelo híbrido mantém a ByteDance como acionista relevante, ainda que sem controle majoritário direto. O arranjo, no entanto, segue sendo alvo de críticas de setores políticos nos Estados Unidos, que defendiam um rompimento completo entre o TikTok e sua controladora chinesa.
Algoritmo e tecnologia continuam no centro do debate
Um dos pontos mais sensíveis do acordo envolve os algoritmos de recomendação, considerados o principal ativo estratégico do TikTok. De acordo com os termos divulgados, a ByteDance deverá licenciar sua tecnologia de recomendação baseada em inteligência artificial para a joint venture do TikTok nos EUA.
Na prática, o algoritmo existente será utilizado como base para treinar um novo sistema, alimentado exclusivamente por dados de usuários americanos, armazenados e protegidos pela Oracle. Essa solução busca atender às exigências de segurança nacional levantadas por autoridades dos EUA, que temem o uso de dados ou da lógica algorítmica para influenciar narrativas políticas ou coletar informações sensíveis.
Oracle como guardiã dos dados e antigas controvérsias
O papel da Oracle como guardiã da segurança dos dados do TikTok nos Estados Unidos não é novidade, mas volta a gerar debates. Anos atrás, uma parceria semelhante, conhecida como Projeto Texas, foi apresentada ao governo americano como solução para as preocupações relacionadas à propriedade chinesa da plataforma. À época, a iniciativa acabou rejeitada por ser considerada insuficiente.
Agora, com a joint venture do TikTok nos EUA, a proposta retorna em um formato mais robusto, com governança independente e controle acionário majoritariamente americano. Ainda assim, críticos questionam se o novo modelo será suficiente para afastar completamente os riscos apontados no passado.
Aprovação da China ainda é ponto de interrogação
Embora os acordos já tenham sido assinados, a operação ainda depende de aval regulatório das autoridades chinesas. Até o momento, Pequim não se manifestou oficialmente sobre a aprovação da transação. Esse silêncio mantém um grau de incerteza sobre a conclusão da joint venture do TikTok nos EUA, já que a legislação chinesa impõe restrições à exportação de tecnologias consideradas estratégicas, incluindo algoritmos de recomendação.
O memorando de Shou Chew não menciona a posição da China, mas reconhece que ainda há trabalho a ser feito antes do fechamento definitivo do negócio.
Lei de segurança nacional e pressão política nos EUA
A criação da joint venture do TikTok nos EUA é resultado direto de uma lei de segurança nacional aprovada no governo Joe Biden, que determinava a venda ou o banimento do TikTok caso não houvesse separação operacional da ByteDance. O prazo inicial para essa regra era janeiro do ano passado, mas foi prorrogado diversas vezes pelo presidente Donald Trump após seu retorno ao cargo, sendo a mais recente extensão válida até janeiro de 2026.
Autoridades americanas sempre argumentaram que o controle chinês sobre o TikTok representava risco potencial à segurança nacional, tanto pela coleta de dados quanto pela possibilidade de manipulação de conteúdo por meio do algoritmo.
Críticas internas e risco de questionamentos legais
Mesmo dentro do ambiente político americano, o acordo enfrenta resistência. Críticos argumentam que a joint venture do TikTok nos EUA pode não cumprir integralmente o espírito da lei, já que a ByteDance mantém participação relevante e influência indireta sobre áreas estratégicas do negócio.
Há ainda questionamentos sobre a legalidade do arranjo, especialmente no que diz respeito à exigência de rompimento operacional total entre o TikTok US e a empresa chinesa. Esses pontos podem gerar disputas judiciais e novos embates políticos ao longo do processo.
Continuidade dos negócios e geração de receita
De acordo com informações internas mencionadas no comunicado aos funcionários, as entidades da ByteDance nos EUA continuarão administrando linhas de negócios estratégicas, como comércio eletrônico, publicidade e marketing. Isso indica que, mesmo com a joint venture do TikTok nos EUA, a integração econômica entre as operações americanas e a controladora chinesa não será totalmente desfeita.
O TikTok tem avançado de forma agressiva no comércio eletrônico, especialmente por meio de transmissões ao vivo e integração entre conteúdo e compras, consolidando-se como uma plataforma relevante também no varejo digital.
Impacto geopolítico e relações entre EUA e China
Caso seja concluída, a joint venture do TikTok nos EUA poderá eliminar um dos principais focos de tensão nas relações entre Washington e Pequim. O futuro do aplicativo vinha sendo tratado como símbolo do embate tecnológico e comercial entre as duas maiores economias do mundo.
A resolução do impasse pode abrir espaço para negociações mais amplas em outras áreas sensíveis, como tarifas, tecnologia e investimentos cruzados, ainda que o clima de rivalidade estratégica entre os dois países permaneça.
TikTok reforça posição cultural nos Estados Unidos
Enquanto as negociações avançavam, o TikTok manteve sua operação normal nos Estados Unidos e ampliou sua influência cultural. A plataforma consolidou-se como espaço central de tendências, entretenimento, informação e consumo, além de fortalecer parcerias com grandes empresas de tecnologia e varejo.
A realização de eventos próprios, como o TikTok Awards em Los Angeles, simboliza essa consolidação e reforça a importância estratégica do mercado americano para a empresa, justificando os esforços para viabilizar a joint venture do TikTok nos EUA.
Perspectivas para 2026 e além
Com a previsão de conclusão do negócio em janeiro de 2026, o próximo ano será decisivo para o futuro do TikTok nos Estados Unidos. A efetivação da joint venture do TikTok nos EUA poderá servir de modelo para outras empresas globais que enfrentam desafios semelhantes em mercados sensíveis do ponto de vista geopolítico e regulatório.
Ao mesmo tempo, o desfecho do caso será acompanhado de perto por governos, investidores e concorrentes, pois estabelece precedentes importantes sobre soberania digital, controle de dados e governança de plataformas globais.
A confirmação dos acordos para a joint venture do TikTok nos EUA representa um marco na longa disputa em torno do futuro da plataforma no país. O arranjo busca equilibrar interesses econômicos, exigências de segurança nacional e a continuidade de um dos aplicativos mais influentes do mundo.
Embora ainda haja incertezas regulatórias e críticas políticas, o avanço do acordo sinaliza uma tentativa concreta de acomodação entre interesses americanos e chineses em um cenário de forte competição tecnológica. Independentemente do desfecho final, o caso do TikTok já se consolidou como um dos episódios mais emblemáticos da nova era de regulação das plataformas digitais globais.






