O MBL (Movimento Brasil Livre) anunciou nesta segunda-feira (3) o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) como vencedor das prévias para escolher o candidato que o grupo quer lançar na eleição para a prefeitura de São Paulo em 2024. Ele obteve 56,1% dos votos.
O outro concorrente, o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil-SP), ficou com 43,8% dos votos.
Nos bastidores, já era esperada a vitória de Kataguiri, que é um dos expoentes do movimento desde sua criação, em 2014, e está em seu segundo mandato. Zacarias estreou na Assembleia Legislativa neste ano e é vice-líder do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Sob aplausos, Kataguiri discursou com críticas à situação da cidade. “São Paulo precisa de alguém que vá para cima [dos problemas]”, afirmou o parlamentar, que falou na necessidade de eleger em 2024 um prefeito com “fibra moral”, “alguém com peito e vontade política”.
Segundo o MBL, 12 mil pessoas estavam aptas a participar das prévias, uma votação interna para decidir quem sairá candidato, aos moldes das feitas por partidos tradicionais, como PSDB e PT. No total, foram 9.951 votos, de coordenadores, militantes, alunos da Academia MBL (plataforma de cursos pagos) e apoiadores cadastrados no Clube MBL (que dá acesso a conteúdos exclusivos e eventos).
A votação, on-line, foi aberta na última sexta-feira (30) e encerrada na tarde desta segunda.
Zacarias disse que foi uma honra perder para o rival, de quem é um admirador, e que vai atuar como coordenador de comunicação da pré-campanha de Kataguiri.
Para consolidar a candidatura, o movimento terá que resolver o impasse com o União Brasil, partido que, hoje, tem a tendência de apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB). O dirigente da legenda na capital paulista, Milton Leite, é um dos principais aliados do atual prefeito.
Leite já disse que a palavra final será dada na convenção municipal, no ano que vem. Uma ala do MBL aposta na tese de que, até lá, o partido poderá rever sua posição, principalmente se o representante do movimento aparecer bem nas pesquisas e se Nunes estiver com dificuldade de decolar.
Daí a decisão de antecipar a definição do nome para 2023, com a intenção de entrar mais fortemente na disputa e trabalhar desde já uma plataforma no campo da direita, tentando atrair segmentos sociais e partidários. O objetivo é chegar a 2024 com maior poder de pressão.
A princípio, o movimento quer evitar embates com a direção da legenda e abrir espaço para mediar uma saída. O MBL não descarta, no limite, participar da votação na convenção que definirá os rumos do partido na corrida municipal, mas a ideia é tentar antes alguma saída pactuada.
Pela legislação, deputados perdem o mandato eletivo se deixarem o partido sem justa causa. As alternativas são buscar na Justiça o direito de desfiliação, apontando perseguição, por exemplo, ou tentar forçar uma expulsão, o que não acarreta a perda do mandato.
A tarefa seguinte seria encontrar uma sigla disposta a lançar o candidato. Em paralelo, o MBL também trabalha para fundar seu próprio partido, mas a expectativa é que a nova legenda só esteja em condições de participar do processo eleitoral em 2026. Por enquanto, o grupo coleta assinaturas em apoio à criação.
O movimento participou da eleição de 2020 na capital representado pelo então deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), que terminou em quinto lugar, com 9,78% dos votos válidos.
Mamãe Falei, como é conhecido Do Val, está impedido de disputar novamente porque ficou inelegível por oito anos após a cassação de seu mandato na Assembleia em 2022. Ele caiu em desgraça após virem a público falas machistas relacionadas às mulheres ucranianas vítimas da guerra.
Em maio, o movimento discutia o lançamento de um postulante para o pleito municipal e considerava Kataguiri o nome natural para a missão. O deputado, contudo, vinha defendendo a discussão de outros nomes e apontava Zacarias como uma das opções.
Como ambos manifestaram interesse na candidatura, o movimento decidiu, em junho, fazer a escolha por vias democráticas, dando aos membros o poder de escolha. A avaliação do coletivo é que há espaço na eleição paulistana para um nome de perfil liberal, jovem e combativo.
Hoje, além de Nunes, são pré-candidatos os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) — apoiado pelo presidente Lula (PT) —, Tabata Amaral (PSB) e o apresentador José Luiz Datena (PDT).
Como noticiou o Painel (da “Folha de S. Paulo”), líderes do MBL e bolsonaristas de São Paulo que têm rejeição a Nunes começaram a conversar sobre a possibilidade de unirem forças contra o prefeito em 2024.
Nesta segunda, uma reunião com representantes dos grupos para tratar do tema teve a presença de Ricardo Salles (PL), deputado federal que desistiu da pré-candidatura à prefeitura após receber sinalizações negativas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que flerta com Nunes.
O placar final das prévias foi divulgado durante um congresso do MBL, realizado no Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, próximo ao parque Ibirapuera (zona sul). Antes do anúncio, foi exibido o documentário “São Paulo Brasil”, produzido pelo MBL sobre a Revolução de 1932.
O presidente do MBL, Renan Santos, disse que o movimento quer contribuir para, caso Kataguiri seja eleito, liderar a oposição ao governo Lula a partir de São Paulo.
A votação interna, anunciada na penúltima semana de junho, foi precedida de atividades para que Kataguiri, 27, e Zacarias, 24, falassem sobre suas plataformas e ouvissem a população.
Os dois concorrentes participaram de uma sabatina na avenida Paulista, na qual podiam ser inquiridos por pessoas que passavam pelo local, e de um debate virtual, que teve discussões sobre temas como Plano Diretor, cracolândia, educação, mobilidade, relação com o governo federal e segurança. Os dois revelaram opiniões semelhantes, mas propuseram caminhos diferentes para solucionar os problemas.