Tarcísio pressiona por intervenção após apagão em São Paulo expor fragilidade da Enel
A crise no fornecimento de energia elétrica que atingiu a Grande São Paulo após um vendaval intenso reacendeu um debate que parecia adormecido, mas que voltou ao centro do cenário político e regulatório do país: a capacidade da Enel de operar um sistema elétrico complexo, em uma das regiões urbanas mais populosas do planeta. A sequência de falhas que deixou mais de 2 milhões de consumidores sem luz levou o governador Tarcísio de Freitas a defender publicamente uma intervenção na concessionária, indicando que o atual modelo de gestão estaria próximo do limite de tolerância do governo estadual.
A reação dura ocorre em um momento em que eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e intensos, ampliando o risco estrutural de interrupções prolongadas. Para Tarcísio, a postura da empresa no episódio confirmou um padrão de resposta considerado insuficiente, especialmente diante da magnitude do apagão em São Paulo, que se estendeu por dias, afetando bairros inteiros, atividades econômicas essenciais, serviços de saúde e a rotina de milhões de moradores.
O governador afirmou que a recuperação completa da rede levaria “alguns dias”, e classificou como inaceitável a sensação de dependência absoluta de uma única concessionária para a recomposição do fornecimento. A percepção pública segue na mesma linha: longos períodos sem luz, dificuldade de comunicação com canais de atendimento e falhas na reorganização da rede resultaram em forte pressão política e social.
O apagão em São Paulo e a resposta insuficiente da concessionária
Desde os primeiros minutos após o vendaval, bairros como Vila Mariana, Saúde, Itaquera, Pinheiros, Butantã e Osasco registraram interrupções simultâneas, enquanto postes caídos, cabos rompidos e árvores sobre as fiações multiplicavam a necessidade de serviço emergencial. A Enel afirmou que o evento meteorológico foi “histórico” e exigiu operação de grande porte para recompor as linhas, destacando que a intensidade dos danos superou a capacidade de resposta imediata.
Ainda assim, para o governo paulista, o argumento não responde à pergunta central: por que a Enel demorou tanto para restabelecer a energia em várias regiões críticas? Segundo Tarcísio, a concessionária falhou no planejamento, na previsão e na disposição de equipes de contingência, e demonstrou fragilidade operacional em comparação com outras distribuidoras de energia do país, que costumam recompor o serviço com maior agilidade após tempestades severas.
O episódio mais recente não foi isolado. Reclamações sobre demora no atendimento, falta de equipes suficientes e demora no reparo de falhas vêm se acumulando, reforçando o desgaste da empresa junto a consumidores e autoridades. O apagão em São Paulo tornou-se símbolo de um problema mais profundo: um sistema que exige investimentos estruturais, modernização tecnológica e maior robustez para suportar fenômenos climáticos intensos.
Intervenção na Enel: a defesa de Tarcísio
O governador foi categórico ao defender uma intervenção na Enel. Segundo ele, apenas uma ação direta do poder regulatório poderá forçar a concessionária a realizar investimentos condizentes com a dimensão da rede. O mandato para esse tipo de ação não é estadual, mas federal: cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliar, decidir e aplicar medidas como intervenção, suspensão de contrato ou penalidades de maior peso.
Tarcísio destacou que a intervenção teria dois objetivos imediatos:
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Garantir a continuidade da prestação do serviço.
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Assegurar que a infraestrutura seja modernizada de maneira compulsória.
Para o governador, a concessão, prevista para encerrar em 2028, pode ser reestruturada, inclusive “quebrada em dois”, separando a área metropolitana da área interiorana. O modelo, segundo ele, facilitaria a fiscalização, geraria competição futura e permitiria a cobrança mais clara de metas de desempenho operacional.
A posição de Tarcísio encontra respaldo técnico em documento recente do Tribunal de Contas da União (TCU), que recomendou análise aprofundada sobre riscos e consequências de uma eventual intervenção. A manifestação do TCU teve forte impacto político, pois indica que o debate envolve não apenas o Executivo, mas também a estrutura de controle federal responsável pela avaliação da qualidade e eficiência das concessionárias.
A atuação da Aneel e da Arsesp durante o apagão em São Paulo
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a agência paulista Arsesp iniciaram imediatamente uma operação de fiscalização in loco. Um dos pontos avaliados é a execução do plano de contingência apresentado pela Enel — um instrumento obrigatório para distribuidoras de energia que operam áreas densamente povoadas.
Os fiscais buscam responder a questões técnicas como:
• houve reforço adequado de equipes antes da tempestade?
• o plano previa resposta para ventos superiores a 100 km/h?
• a concessionária realizou poda preventiva e manutenção da rede conforme exigido?
• o tempo de recomposição foi compatível com normas regulatórias?
As respostas a essas perguntas serão decisivas para definir se a companhia descumpriu obrigações contratuais e se as falhas justificam medidas punitivas.
A Enel mobilizou mais de 1.600 equipes e afirmou ter restabelecido a energia para 1,2 milhão dos 2,5 milhões de clientes afetados. Apesar disso, admitiu que, em algumas regiões, a destruição da rede exigiria “reconstrução completa”, o que atrasaria ainda mais o retorno da normalidade.
A gravidade do apagão em São Paulo revelou que a empresa opera em um limite estreito entre capacidade e sobrecarga — uma margem que eventos extremos têm ampliado de forma preocupante.
Apagão em São Paulo: impactos sociais e econômicos
Os efeitos do apagão foram sentidos em todas as dimensões da vida paulistana.
1. Saúde
Hospitais acionaram geradores por períodos longos, aumentando custos de operação e risco de falhas em equipamentos sensíveis.
2. Comércio
Supermercados, bares e restaurantes registraram perdas por falta de refrigeração adequada. Pequenos negócios foram especialmente afetados.
3. Mobilidade
Semáforos apagados e falha na iluminação pública comprometeram o tráfego, aumentando congestionamentos e acidentes.
4. Segurança
Regiões completamente às escuras registraram aumento de furtos e sensação de insegurança.
5. Serviços digitais
Routers sem energia, antenas sobrecarregadas e instabilidade no 4G e no 5G evidenciaram a dependência absoluta de infraestrutura elétrica.
O apagão em São Paulo mostrou que falhas desse tipo não são apenas desconfortos temporários: podem paralisar uma metrópole inteira.
As críticas a Tarcísio e a resposta do governador
Adversários políticos acusaram o governador de utilizar o episódio para pressionar por agendas próprias, como a privatização da Sabesp. Além disso, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que críticas locais seriam “populistas”.
Tarcísio rebateu com firmeza:
“O que diremos às pessoas que estão há dois, três dias sem energia? Qual é a previsibilidade?”
A resposta reforça seu posicionamento: para ele, o debate não é político, mas operacional. O apagão em São Paulo teria exposto uma vulnerabilidade séria e contínua, que precisa ser corrigida com urgência.
A crise e o futuro da concessão
A concessão da Enel vence em 2028. Até lá, três cenários são possíveis:
1. Intervenção
Medida extrema, mas constitucional e regulatória.
2. Penalidades com aumento de investimentos obrigatórios
Pode incluir multas, metas rígidas e auditorias.
3. Não renovação da concessão
Decisão que abriria uma disputa entre empresas interessadas.
A depender do resultado da fiscalização em curso, o governo paulista e a Aneel terão dados suficientes para decidir.
O apagão em São Paulo tornou-se assim divisor de águas na discussão da distribuição elétrica brasileira.
A Enel e os desafios estruturais do setor
Eventos extremos tendem a se intensificar. Redes antigas, postes danificados, ramais sem poda preventiva e equipes insuficientes podem transformar qualquer tempestade em um blecaute prolongado.
Para especialistas, a solução exige:
• modernização urgente das redes;
• reforço de equipes emergenciais;
• automação de circuitos;
• investimentos de longo prazo contínuos.
Sem isso, o apagão em São Paulo tende a se tornar mais frequente — e mais devastador.






